Prefeitura licita reforma de R$ 2 milhões, mas não deu prazo para começar obras na Capitão Clóvis, em Boa Vista. Comerciantes de quiosques no entorno reclamam: ‘tapumes facilitam a ação de ladrões’. Praça Capitão Clóvis completou um mês desocupada e reforma ainda não começou
Emily Costa/G1 RR
Um mês após ter sido desocupada, fechada e lavada, a praça Capitão Clóvis, onde havia um acampamento improvisado de 300 venezuelanos, ainda não começou a ser reformada pela Prefeitura de Boa Vista. Comerciantes do entorno relatam arrombamentos e dizem que com a instalação de tapumes e a saída dos venezuelanos, a praça ficou baldia e perigosa.
Os venezuelanos que moravam na praça foram levados para um abrigo provisório na manhã do dia 24 de abril. A operação de retirada foi executada pelo Exército, ONU, aeronáutica e prefeitura.
No dia da desocupação, os imigrantes contaram que foram pegos de surpresa, mas que de fato queriam ir para o abrigo, porque a vida na praça era difícil. A maioria dos venezuelanos ficava em barracas improvisadas, ou dormia sobre papelões. Lá não havia banheiros, e nem bebedouros coletivos.
Venezuelanos viveram acampados em praça por cerca de nove meses; praça foi cercada com tapumes no dia 4 de abril e desocupada no dia 24 para ser reformada
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Antes de ter sido esvaziada, a praça Capitão Clóvis foi cercada com tapumes sob a justificativa de que seria reformada. Dias antes, a prefeita Teresa Surita (MDB) tinha anunciado à imprensa que iria desocupar praças e proibir imigrantes venezuelanos de acamparem em espaços públicos.
Agora, com a praça vazia e cercada, donos de comércios no entorno reclamam da demora para o início dos serviços. Eles contam que os tapumes colocados antes da saída dos venezuelanos escondem os quiosques o que além de afastar os clientes, facilita a ação de bandidos, porque a praça está baldia.
Comerciante José de Lima teve quiosque arrombado após a retirada de 300 venezuelanos da praça Capitão Clóvis
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Na última segunda (21), um restaurante foi arrombado. Foram levadas botijas de gás, panelas, comida, e até uma garrafa de café. O proprietário, José de Lima, de 51 anos, calcula que teve mais de R$ 4 mil de prejuízo. O quiosque está fechado desde então.
“Quem invadiu foram usuários de drogas brasileiros. Desde que a praça foi desocupada eles vêm para cá usar crack. Abriram uma entrada na praça, e fazem o que querem lá dentro e aqui do lado de fora. Toda noite eu peço para a polícia vir, porque já tinham tentado arrombar aqui. Desta vez conseguiram”, lamentou.
Ele também garante que o movimento no restaurante caiu pelo menos 70% desde que os tapumes foram instalados, ainda no início de abril.
Tapumes foram retirados e uma entrada foi aberta na praça Capitão Clóvis
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“Ou reformam logo a praça, ou tiram os tapumes. Do jeito que está não pode continuar. É perigoso e prejudica as vendas”, acrescentou a esposa do comerciante, Edilma Alves, 47. Os dois mantêm o quiosque há 17 anos.
Reforma de R$ 2 milhões
Procurada pelo G1, a prefeitura de Boa Vista informou que abriu na semana passada a licitação para a reforma da praça Capitão Clóvis.
A previsão é que a reforma custe R$ 2 milhões. O recurso, ainda de acordo com o município, vem do Ministério do Turismo e foi alocado por meio de emenda do senador Romero Jucá (MDB).
A prefeitura não se manifestou sobre as reclamações dos comerciantes.
Praça Simón Bolívar
Além da Capitão Clóvis, a praça Simón Bolívar, na zona Oeste, onde 846 venezuelanos viviam, também não começou a ser reformada mais de 20 dias depois de ter sido es
A Simón Bolívar foi desocupada no último dia 6 depois de também ter sido cercada com tapumes. Os imigrantes, que viveram lá por cerca de sete meses, foram levados a abrigos.
Após a retirada de 846 moradores, entrada da praça foi lacrada para evitar nova ocupação; espaço será revitalizado, segundo a prefeitura
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À época do fechamento da praça, a prefeitura disse que ela precisava ser esvaziada para passar por manutenção em virtude dos danos causados pela ocupação dos venezuelanos. Nos últimos três anos, quase 20 mil venezuelanos pediram refúgio em Roraima, primeiro estado após a fronteira. Entre janeiro e fevereiro, cerca de 3 mil venezuelanos solicitaram refúgio no estado e outros 2,5 mil pediram residência temporária à Polícia Federal em Boa Vista.
Agora, o município diz que a Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Meio Ambiente está fazendo ajustes no projeto inicial de reforma e que assim que isto for definidio, serão divulgados quais serviços serão de fato feitos no local. O valor previsto para ser gasto não foi divulgado, mas a prefeitura disse que obra será custeada com recursos municipais.