O deserto de Joshua Tree, Califórnia, é roots, mas tem Coachella

Já comi muita poeira em desertos mundo afora, mas só em Mojave a gente vê aquela personalidade natureba californiana

Praia ou montanha? A minha resposta é a coluna do meio. Ou seja: deserto. Aqueles mares de areia sem fim, rochas quase líquidas esparramadas por imensas porções de terra cobertas por um céu de pé-direito baixo.

Eu me apaixonei por desertos desde a primeira vez que dormi em um. Neguev, Israel, 1989. Depois disso, comi bastante poeira. Atravessei o Sinai num táxi beduíno; passei duas semanas dormindo sob as estrelas do Saara, no Níger; camelei no Thar, na Índia; vi blocos de gelo eterno em pleno verão do Gobi, entre a Mongólia e a China. No Atacama, aqui do lado, tive verdadeiras aulas de astronomia.

E agora acabo de voltar de mais um: Mojave. Atravessá-lo é quase inevitável se você faz uma road trip pela Califórnia, mas aproveitei para passar dois dias no Joshua Tree National Park, famoso pelas iúcas gigantes, batizadas assim pelos mórmons, em referência a Josué apontando a Terra Prometida. Religião à parte, as árvores são lindas e inspiradoras (sim, o U2 bebeu dessa fonte para o álbum Joshua Tree) e o parque é superbem organizado. Basta pegar um mapinha, deixar o carro na beira da trilha e botar o pé na terra.

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A base para explorá-lo é Joshua Tree, paragem que não dá nem para chamar de cidade – é mais um aglomerado de hotéis e restaurantes simples ao longo da Highway 62. Podia ser só isso, mas o lugar tem personalidade. No começo senti falta de tuaregues, mongóis nômades ou beduínos, mas logo identifiquei a tribo local: os bichos-grilos-naturebas californianos.

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Pela manhã, esse povo cheio de tattoos e dreadlocks se encontra no excelente Natural Sisters Café para um iogurte caseiro com granola, antes de um trekking ou uma escalada, avistando ao longe o Coachella Valley, palco do festival que todo abril arrasta uma multidão para o deserto.

No fim do dia, nada como uma pint de Lagunitas, a ótima cerveja IPA californiana, no Joshua Tree Saloon, tão típico que a sensação é que a qualquer momento alguém vai sacar uma pistola. Daquelas de bolinhas de sabão.

Cindy Wilk gostou das iúcas gigantes, do iogurte com granola e da pint de Lagunitas (foto: arquivo pessoal)Cindy Wilk gostou das iúcas gigantes, do iogurte com granola e da pint de Lagunitas (foto: arquivo pessoal)

Texto publicado na edição 224 da revista Viagem e Turismo (junho/2014)

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Fonte: Viagem e Turismo