Papai Noel, neste natal que se aproxima, não quero nada. Não me comportei bem o suficiente em 2018, eu sei.
Portanto, não receberá minha costumeira cartinha, aquela que todos os anos lhe chega às mãos repleta de pedidos, alguns mais impossíveis de se obter, do que a solução pacífica para palestinos e judeus.
Mas receberá uma substituta, bem menor, e também de punho meu.
E, nela, Papai Noel, não pedirei nada para este raso escrevinhador de sonhos.
Nas minhas mal traçadas linhas, intermediarei pedidos de pessoas queridas.
Farei a missiva chegar às frias paisagens do Polo Norte com o desejo de que a leia com carinho e que a atenda, na medida do possível, recolhendo as prendas quando seu trenó estiver sobrevoando o Brasil. E as entregue aqui, em solo norte-americano, tão logo seja possível.
Meu amigo Wendel Corrêa, que é de Curvelo, quer o cheiro de um pequi maduro.
Na falta da fruta, caso não seja esta a sua estação, pode trazer uma generosa porção de carne de sol com mandioca, típicas e abundantes da região do norte de Minas.
Caso traga a segunda parte, o chef Edney vai aproveitar a pedida e o pedido, e fará companhia a Corrêa, com quem dividirá sua prenda: uma boa cachaça de Salinas, envelhecida em barril de umburana e servida num copo lagoinha, como manda a etiqueta dos que entendem do assunto.
Kiko de Souza se contentará com a brisa da manhã de São João Del Rei, abanando as palmeiras do pátio da igreja de São Francisco.
Márcio Preto, moço paranaense, quer um punhado de terra vermelha do chão de sua Curitiba.
Para o pernambucano Domício Coutinho, uma escultura do Padre Cícero, feita em barro, dos quintais de Caruaru.
O mundo precisa de milagres, Papai Noel.
Regina Pacheco, embaixadora de Vila Velha no mundo, quer a fotografia de um entardecer na Praia da Costa, da qual tem imensa saudade.
Regina cresceu naquelas areias. Banhou-se em suas águas.
Aquele mar era seu, como também eram seus o sol vermelho do entardecer capixaba e o Convento da Penha, majestoso, imponente na paisagem retratada no cartão postal.
O polêmico João Leite, que nasceu em Ipatinga mas cismou de torcer por um time do Rio, quer que o Flamengo não repita os fracassos de 2018 e permaneça no “cheirinho”.
Como de costume, sei que será difícil manter em dia o salário dos jogadores, e que alguns craques estão de partida. Vá, Papai Noel, por favor, dê para João Leite e seu Flamengo, um lugar honroso na tabela em 2019.
Chiquinho Woodstock pede o canto de um legítimo canário do reino.
Na falta deste, pode ser o de uma cotovia, ou de uma sabiá-laranjeira.
Para o brasiliense Elias Júnior peço pouco: uma garrafa transparente, contendo o ar inconfundivelmente seco da capital federal.
Para Mario Bittencourt, que é do Rio, consiga-lhe a partitura de um samba de Noel, ou de um choro de Pixinguinha.
Para meu compadre Fábio Portugal peço um grito de gol de sua Ponte Preta.
De preferência num derby campineiro.
Gol de vitória, suado, libertador, aos 45 do segundo tempo.
Pode ser até de mão.
Para o companheiro Leonardo Ferreira, um desenho mágico, jamais publicado, da lavra do mago Henfil.
Para Josiana Camargos, moçado interior de Minas Gerais, uma serenata, com violões, bandolins, pandeiros e flautas numa janela de Itaúna.
E uma noite com lua para acompanhar.
Marcelo Marreco, que também é curitibano, ficará feliz com o eco de um show de rock na Pedreira Leminski.
Sofrendo de banzo, Orlando Norberto, que nasceu e cresceu nos Pampas, anda precisando escutar o silvo do minuano, seguido de uma milonga chorada de uma gaita distante.
Ou uma Ramilonga do Vitor, irmão de Kleiton e Kledir.
Para Peter Pantoliano, que admira a beleza de nosso povo, traga o gingado da cintura de uma mulata sambando.
E se depois disto tudo ainda tiver sobrando algum espaço em sua bagagem, traga um bom bocado de paz e solidariedade, semeados pelos saudosos Betinho e Zilda Arns, que é pra eu dividir com quem encontrar pelo caminho.
E, se todo mundo já estiver servido, posso até ficar com um pedacinho para mim.
Fonte: Brazilian Voice