

Crédito, Getty Images
- Author, Anthony Zurcher
- Role, Correspondente em Washington DC (EUA), BBC News
- Twitter,
Mas o plano de Trump – ou, pelo menos uma parte significativa dele – foi congelado. O presidente suspendeu o aumento das tarifas para a maioria dos países por 90 dias. E, paralelamente, ele se concentra em manter uma guerra comercial contra a China.
Em uma escalada que se arrastou por mais de uma semana, as tarifas contra o país asiático foram aumentadas por Trump até alcançarem o patamar de 145%, após retaliações por parte de Pequim.
Com a reversão parcial para os demais países, será que Trump estaria mais perto de atingir seus objetivos em relação ao comércio internacional?
Vamos examinar rapidamente cinco das suas ambições principais e verificar como elas caminharam até o momento.
1. Melhores acordos comerciais
O que disse Trump: Há décadas, nosso país tem sido roubado, pilhado e explorado por outras nações, próximas e distantes, amigas e inimigas.
O plano original de Trump para o comércio exterior previa fortes consequências que atingiriam todo o mundo, com uma tarifa básica de 10% para todos os países, incluindo algumas ilhas desabitadas.
Além disso, seriam impostas tarifas “recíprocas” adicionais a 60 países que, segundo ele, seriam os maiores transgressores.
As medidas deixaram aliados e adversários preocupados com a perspectiva de verem este golpe debilitar suas economias.
A Casa Branca se vangloriou rapidamente da quantidade de líderes mundiais que procuraram o presidente, oferecendo acordos e concessões comerciais. Foram “mais de 75”, segundo secretário do Tesouro americano, Scott Bessent.
O governo americano não publicou a lista de todos os países que, segundo Trump declarou na terça-feira (8/4), estariam “puxando saco” e prometendo fazer de tudo. Mas os Estados Unidos anunciaram negociações com o Japão e a Coreia do Sul, entre outros países.
O resultado: Os parceiros comerciais americanos receberam o prazo de 90 dias para chegar a algum tipo de acordo com Donald Trump – e o tempo está passando.
Mas as negociações estão acontecendo, o que indica que o presidente tem uma boa chance de conseguir algo com os seus esforços.
2. Incentivo à indústria americana
O que Trump disse: Os empregos e as fábricas irão voltar para o nosso país de forma estrondosa… Iremos turbinar nossa base industrial doméstica.
Trump vem dizendo há décadas que as tarifas de importação são uma forma eficaz de reconstruir a base industrial americana, como forma de proteção contra a concorrência desleal estrangeira.
Algumas fábricas podem conseguir aumentar a produção com suas instalações atuais, mas ampliações mais substanciais exigem tempo.
E, para que os líderes empresariais decidam voltar a fabricar nas suas próprias linhas de produção e investir em novas fábricas nos Estados Unidos, eles irão querer saber que as regras do jogo são relativamente estáveis.
Mas o vaivém das medidas tarifárias do presidente americano é um movimento inerentemente instável.
No momento, é difícil prever aonde irão chegar os níveis finais de tarifas de importação e quais setores receberão maior proteção. Um dia, podem ser os fabricantes de aço e automóveis; no dia seguinte, podem ser as empresas de eletrônica e alta tecnologia.
O resultado: Quando as tarifas são aplicadas e removidas, aparentemente conforme a vontade do presidente, é muito mais provável que as empresas – nos Estados Unidos e no exterior – esperem a poeira baixar para, só depois, pensar em assumir grandes compromissos.

Crédito, Getty Images
3. Enfrentando a China
O que Trump disse: Tenho muito respeito pelo presidente chinês Xi, muito respeito pela China, mas eles tiraram enorme vantagem de nós.
Depois da reviravolta de Trump sobre as tarifas de importação na quarta-feira (9/4), diversas autoridades da Casa Branca (incluindo Bessent) declararam rapidamente que o objetivo de Trump era desferir o golpe contra o verdadeiro vilão: a China.
“Eles são a maior fonte dos problemas comerciais dos Estados Unidos”, declarou Bessent aos repórteres, “e, de fato, são o problema para o resto do mundo.”
Se Trump queria uma disputa de vontades com a China, testando a tolerância de cada um dos lados às tribulações políticas e econômicas, ele conseguiu – mesmo que o presidente americano e sua equipe tenham indicado estarem procurando uma saída.
Na quarta-feira (9/4), Trump declarou que a culpa da atual disputa comercial é de ex-presidentes americanos, não da China. E, no dia anterior, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o presidente seria “incrivelmente bondoso” se a China propusesse um acordo.
O resultado: Mesmo se o atual confronto for realmente o objetivo de Trump, começar uma briga com a segunda maior economia do mundo, com poderio militar equivalente, traz enormes riscos.
E os Estados Unidos podem ainda ter afastado seus aliados indispensáveis para um confronto desta escala.
4. Aumento da receita
O que Trump disse: Agora, é a nossa vez de prosperar e, para isso, usaremos trilhões e trilhões de dólares para reduzir nossos impostos e pagar nossa dívida nacional. E tudo irá acontecer com muita rapidez.
Durante a campanha presidencial do ano passado, Trump defendeu frequentemente que sua proposta de tarifas de importação traria enormes aumentos de receita. E que os Estados Unidos poderiam usar esse dinheiro para reduzir seu déficit orçamentário, reduzir impostos e financiar novos programas governamentais.
Um estudo da organização apartidária Tax Foundation calculou no ano passado que uma tarifa universal de 10% – que acabou sendo a conclusão de Trump pelo período de 90 dias – geraria US$ 2 trilhões (cerca de R$ 11,7 trilhões) em aumento de receita para os próximos 10 anos.
Em termos comparativos, os cortes de impostos incluídos recentemente pelo Congresso americano no seu plano orçamentário custariam cerca de US$ 5 trilhões (cerca de R$ 29,3 trilhões) nos próximos 10 anos, segundo o think tank (centro de pesquisa e debates) Centro de Política Bipartidária.
O resultado: Trump tem como objetivo é aumentar a receita das tarifas de importação.
Se o presidente mantiver suas tarifas básicas, mais as alíquotas adicionais sobre certos produtos e origens e as tarifas mais altas para a China, ele irá conseguir – pelo menos até que os americanos aumentem sua produção doméstica, o que irá secar a fonte de receita.
5. Preços mais baixos para os consumidores americanos
O que Trump disse: Em última análise, o aumento da produção doméstica irá fortalecer a concorrência e reduzir os preços para os consumidores. Esta será realmente a idade de ouro da América.
Analistas e especialistas ofereceram inúmeras outras explicações sobre os motivos que levaram Trump a uma mudança comercial tão agressiva na semana passada. Estaria ele tentando reduzir as taxas de juros, desvalorizar o dólar ou trazer o mundo para a mesa de negociações, em busca de um novo acordo global de comércio?
O presidente não falou muito sobre estas possibilidades.
Mas ele manifestou incansavelmente seu desejo de reduzir custos para os consumidores americanos. E prometeu que sua política comercial irá ajudar a atingir este propósito.
Os preços da energia desabaram na semana seguinte ao anúncio do plano de tarifas de importação de Donald Trump. Mas este pode ter sido o resultado do receio de que as guerras comerciais possam levar a uma recessão global.
O consenso entre os economistas é que as novas tarifas irão aumentar os preços para os consumidores. Afinal, as tarifas são somadas aos preços dos produtos importados, principalmente quando há menos concorrência de produtos fabricados nos Estados Unidos.
No ano passado, a Tax Foundation estimou que uma tarifa de importação universal de 10% aumentaria os custos para as famílias americanas, em média, em US$ 1.253 (cerca de R$ 7.333) no seu primeiro ano. E os economistas alertam que os americanos de baixa renda serão os mais atingidos.
O resultado: Um possível aumento dos preços é contraproducente e representa um imenso risco potencial para o peso político de Donald Trump e as perspectivas eleitorais do seu partido no futuro.
Fonte: BBC