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Sortelha: cidadela portuguesa do século 12 em forma de anel

O fim de tarde se despede colorindo de vermelho o mar de montanhas da região da Beira Interior. Dentro das casas, começa o crepitar das lenhas – seja para esquentar o corpo, seja para aquecer a alma; ou ainda para preparar as delícias de caça que são a especialidade da região. Na altura em que o vento normalmente faz a curva (e uiva), a pequenina Sortelha se recolhe por trás das cortinas rendadas das janelas, aos pés das lareiras e salamandras, em volta das mesas. Estamos no centro de Portugal, no sopé da Serra da Estrela, região perto da fronteira com a Espanha que viu brotar, na Idade Média, um sem-fim de muralhas, castelos e fortalezas para a proteção do território. 

Sortelha nasceu assim, sobre indícios de assentamentos que remontam à Idade do Ferro. A mando do rei D. Sancho I, foi erguido, no século 12, no topo de uma montanha de 760 metros de altura, um castelo de estilo românico-gótico. Mais tarde vieram influências manuelinas e o que se vê hoje é um fascinante e bem preservado mix de diferentes períodos do passado da região. É possível percorrer uma parte das muralhas que contornavam toda a vila em forma de anel (daí o nome, que vem de sortija, aliança em espanhol). A vista que se descortina dos arredores segue por quilômetros e quilômetros pelo horizonte. Detalhe: com atenção nota-se uma parte reconstruída recentemente. Trata-se do trecho que foi dinamitado durante um embate com as tropas de Napoleão Bonaparte. Aqui respira-se história a cada esquina. 

Sortelha
Aldeias históricas/Facebook/Divulgação

Toda construída em granito, Sortelha é uma cidadela de poucas ruas, umas quantas casas e não mais que 500 moradores. Um curto passeio pelo centrinho revela verdadeiras joias arquitetônicas. Para começar, há quatro portas “oficiais” que antigamente controlavam o acesso local – uma delas impressionantemente talhada nas rochas. No largo do Pelourinho, construído em 1510 pelo rei D. Manuel, segue bem preservada a antiga construção que fazia as vezes de Casa da Câmara e Cadeia (cada função em um andar distinto, claro). Não muito longe, vê-se a Casa do Governador, a Igreja Matriz do século 14, curiosas fontes e até mesmo um trecho de 30 metros de extensão de uma antiga calçada medieval. 

E então estamos de volta ao fim de tarde vermelho, ao vento, ao cheiro de lenha. Cacife um lugar num sofá do Bar Boas Vindas (Rua da Mesquita), peça um vinho e brinde sem pressa a calmaria do interior. Quando bater a fome, rume para um dos dois melhores restaurantes da redondeza. Pode ser o D. Sancho, famoso pela caldeirada de cabrito, ou O Celta, que prepara um delicioso ensopado de borrego (que é como os portugueses chamam o filhote de cordeiro). Se for outono-inverno, tempo de caça, prepara-se para ousar em receitas à base de lebre, veado, javali, perdiz… e castanhas! E no dia seguinte? Comece tudo de novo… 

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A pequenina vila não tem hotéis, mas há casas simpáticas para passar dias sem pressa. Uma das melhores é a Casa da Lagariça, feita de pedra no século 18 e com lagar antigamente usado para a pisa de uvas na fabricação do vinho. Tem três quartos e acomoda até 8 pessoas.

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Fonte: Viagem e Turismo

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