O Japão está se internacionalizando e esse processo vem se acelerando. A força motriz é a mudança demográfica: a população do Japão está envelhecendo rapidamente e encolhendo. Acrescente-se outros fatores, incluindo níveis nunca antes vistos de turismo estrangeiro, além de preparativos maciços para os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, e o resultado é uma nação que precisa desesperadamente de trabalhadores para preencher vagas.
Essa iminente crise demográfica não pegou o país de surpresa, é conhecida há décadas. Mas como sucessivos governos relutaram em tomar medidas importantes, o problema se tornou agora muito mais urgente. O primeiro-ministro, Shinzo Abe, quer atrair mais trabalhadores estrangeiros com baixos salários. Mas sua proposta de trazer centenas de milhares de pessoas para preencher postos de trabalho até 2025 é altamente polêmica. Especialmente em um país que, tradicionalmente, evita a imigração.
No início de dezembro, o Parlamento do Japão aceitou essa proposta em um movimento contencioso e sem precedentes. Na prática, os congressistas japoneses votaram a favor da entrada de um número nunca antes visto de trabalhadores imigrantes: 300 mil nos próximos cinco anos, a partir de abril. A nova lei chega em uma época de mudanças históricas no Japão. E o impacto disso pode moldar o país por gerações.
No entanto, os imigrantes respondem por apenas 1% da população do Japão, comparado a 5% no Reino Unido ou 17% nos EUA. Quase 30% dos trabalhadores estrangeiros do Japão vêm da China. O resto, do Vietnã, das Filipinas e do Brasil. Mas o grande problema é o seguinte: o número de japoneses nativos está diminuindo. A população diminuiu em quase um milhão de pessoas entre 2010 e 2015. No ano passado, caiu mais 227 mil. Em paralelo, o número de residentes com mais de 65 anos atingiu 27% da população total, um recorde. Segundo estimativas, esse contingente de idosos deverá subir ainda mais, para 40%, em 2050.
Em maio, a taxa de disponibilidade de empregos atingiu o maior nível em 44 anos: 160 para cada 100 trabalhadores. Em outras palavras: há muitos empregos disponíveis que os japoneses mais velhos não podem fazer e que os japoneses mais jovens não querem fazer. “A situação é muito terrível”, descreve Shihoko Goto, consultora sênior do Woodrow Wilson Center, centro de estudos com sede nos Estados Unidos. Ela lembra que, no passado, a imigração não era “vista como parte de uma solução mais ampla para algumas das questões que o Japão está enfrentando atualmente”.
A necessidade mais urgente está em setores como construção, agricultura e construção naval, por todo o país. A hotelaria e as indústrias de varejo também exigem cada vez mais o inglês e outras habilidades linguísticas, já que o turismo continua crescendo. Há também a preocupação de que os trabalhadores estrangeiros lotem as cidades e não vivam nas áreas rurais, onde são mais necessários. Enquanto isso, defensores dos direitos humanos temem que o Japão ainda não tenha aprendido como proteger adequadamente os trabalhadores estrangeiros da exploração. À medida que a sociedade envelhece e as Olimpíadas se aproximam, cresce a pressão sobre o Japão para descobrir como trazer a mão de obra desesperadamente necessária do exterior. Enquanto isso, o governo provavelmente passará grande parte de 2019 lutando para chegar a um consenso sobre a vinda de trabalhadores estrangeiros. Até lá, os problemas continuam.
Fonte: Brazilian Press