‘Fui forçado a me esterilizar para mudar de gênero no Japão’, diz homem trans

Pesquisas indicam que esterilizações forçadas, coagidas ou involuntárias foram verificadas em pelo menos 38 países no século 21.

Em 2020, a Comissão para a Igualdade de Gênero da África do Sul publicou um relatório sobre o tema, que citou casos de 48 mulheres.

Zishilo Dludla, de 50 anos, é uma delas. Ela diz que foi esterilizada em 2011, ao dar à luz sua terceira filha, por ser portadora do vírus HIV.

“A equipe disse: ‘Estamos dizendo que vamos te esterilizar’. Eu respondi: ‘Não vou ser esterilizada’.

Eles começaram a chamar outros enfermeiros: ‘Ei, venham aqui, ouçam o que ela está dizendo. Ela não pensa.

Ela tem um cérebro pequeno, não se importa nem tem amor próprio”, relata a sul-africana.

O hospital diz que, segundo os registros médicos, Zishilo consentiu em ser esterilizada.

Longe dali, no Japão, é preciso ser esterilizado para poder mudar de gênero no registro civil.

Além disso, a lei do país estabelece outras exigências como não ser casado, não ter filhos menores de idade e ter a genitália semelhante à do gênero desejado.

Fumino Sugiyama, de 39 anos, é um homem trans que não pode mudar seus documentos porque ainda tem útero e ovários.

Por isso, ele não tem a guarda de nenhum de seus dois filhos nem consegue se casar, já que o Japão não reconhece a união entre pessoas do mesmo sexo.

“Posso parecer um homem de meia-idade. Mas, para o registro civil, sou uma mulher”, diz Sugiyama, que já retirou os seios e toma injeções de testosterona.

Para mudar de gênero legalmente, Kento Inoue decidiu ser esterilizado. Ele fez a cirurgia de readequação quando tinha 25 anos.

“Se tivesse a mesma mentalidade que tenho hoje, acho que não teria retirado meu útero nem meus ovários. Não teria feito a cirurgia se a lei fosse diferente.”

O Ministério da Justiça japonês diz que “trabalhou em conjunto com a Dieta [congresso do país] em discussões sobre esse tema e vai seguir ouvindo diversas opiniões para discutir posteriormente se vai ou não revisar os requisitos para mudança de gênero, baseando-se nas discussões na Dieta”.

Confira no vídeo.

Fonte: BBC