Turistas descobrem destinos perto de casa como alternativa a restrições

Com a necessidade de distanciamento social e restrições a viagens de longa distância, turistas estão explorando locais até então deixados de fora dos roteiros, perto de grandes centros.

Segundo pesquisa Datafolha, 32% dos paulistanos disseram ter viajado durante a pandemia. Desse grupo, 71% afirmaram que fizeram o passeio de automóvel, 42% de ônibus, 30% de avião, 10% de trem e apenas 2% de navio.

“Ao viajar mais de carro, as pessoas perceberam que podem explorar várias cidades de uma mesma região”, diz Bruno Omori, presidente do Instituto de Desenvolvimento, Turismo, Cultura, Esporte e Meio Ambiente.

Em São Paulo, um dos circuitos turísticos em expansão engloba cidades do Vale do Paraíba, no interior do estado. “Além do turismo religioso e de serra, os viajantes passaram a incluir no roteiro regiões folclóricas nos municípios de Taubaté ou Monteiro Lobato, por exemplo”, afirma.

Um plano estadual prevê a criação de rotas turísticas ao longo de rodovias no Vale do Ribeira, no sul do estado, com investimentos em mirantes, skywalks e espaços para alimentação. Segundo o governo, a implantação começa ainda neste ano.

Durante a pandemia, o casal de fotógrafos Verônica, 31, e William Kraft, 36, começou a viajar em um motorhome, principalmente dentro do estado de São Paulo. Eles compraram uma Kombi e a equiparam com cama, fogão, geladeira e chuveiro. Tudo custou aproximadamente R$ 50 mil.

O investimento possibilitou aos dois viajar para lugares menos movimentados, reduzindo riscos de contágio por Covid. “Nos surpreendemos com as paisagens e cachoeiras em Brotas, Itapeva e Itararé, lugares que ainda não conhecíamos”, diz Verônica, que mora em Sorocaba, no interior paulista.

A busca por viagens de natureza e mais sustentáveis são tendências para o turismo no pós-pandemia, afirma Jaqueline Gil, pesquisadora do Laboratório de Estudos de Turismo e Sustentabilidade da UNB (Universidade de Brasília).

“Pessoas que conheciam muito pouco o ambiente natural do entorno [de onde moram] agora começam a ter outro olhar”, diz a professora.

Embora os roteiros de carro estejam em alta, o setor aéreo projeta crescimento a partir dos próximos meses, com o avanço da vacinação.

A Iata (Associação Internacional do Transporte Aéreo, na sigla em inglês) estima que, em 2022, o número global de passageiros atinja 88% dos níveis anteriores às restrições na circulação de pessoas.

O fim da pandemia levará a um boom do turismo, na opinião de Bruna Milet, diretora global de publicidade e assuntos institucionais da agência de viagens Decolar.

Os passeios, afirma ela, deverão ganhar um caráter de celebração e, com isso, os gastos também serão maiores. “Assim como no período pós-Guerra, deve haver mais benevolência das pessoas com elas mesmas.”

Um levantamento da empresa aponta Maceió, Rio de Janeiro e Natal como os destinos nacionais mais buscados para o segundo semestre.

Nos próximos meses, entretanto, as passagens aéreas devem ficar mais caras, afirma Luiz Trigo, professor do curso de turismo da USP.

Isso porque, possivelmente, as companhias aéreas terão de repassar ao consumidor os custos de manutenção das aeronaves que ficaram paradas na pandemia.

Fonte: Folha de S.Paulo