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São Paulo sonha em ser o Rio de Janeiro

Recebo a notificação no celular, o que faz o aparelho vibrar no bolso da bermuda. Paulistano ansioso que sou, saco imediatamente o telefone. Pode ser algo importante.

Mas não. É um email que anuncia uma obra na calçada de um bar em Moema. Trocaram o piso antigo, que imitava o calçadão de Copacabana, por pedras que reproduzem o calçadão de Ipanema.

Repito: em Moema. Não consigo pensar em lugar mais paulistano, quando o gentílico é empregado como xingamento. Não há neste planeta lugar menos carioca.

Ironicamente, Moema é o bairro favorito dos cariocas expatriados em São Paulo. Pelo singelo motivo de ficar a apenas uma hora do Rio, via Congonhas.

O papo agora é a fixação que paulistanos têm pelo Rio, pelo menos no que diz respeito aos bares. São Paulo sonha em ser o Rio de Janeiro.

Desde que abriram o Pirajá, um quarto de século atrás, aqui pipocam feito brotoejas os botecos pretensamente cariocas. Perdão: botequins, pois pretensamente é assim que se fala no Rio.

Bares cariocas de Essepê são tão verdadeiros quanto o Zé Carioca, papagaio brasileiro que fazia escada para o americano Pato Donald.

Os estabelecimentos celebram as praias citadas em “Do Leme ao Pontal”. E tome Cartola na caixa. E dá-lhe feijoada da Dona Cutica do Cantagalo, pastel de camarão do Tio Pereira de Bonsucesso.

Só falta ligar o aquecimento para recriar a canícula do Rio de Janeiro no verão. Fica a ideia: uma bar chamado Suor Bangu.

Esse Rio caricato não resiste ao primeiro avião que desce para nos avisar que estamos em Moema, ao lado de Congonhas e não tão longe do autódromo de Interlagos —sempre haverá uma placa marrom indicando o caminho para lá.

Para homenagear São Paulo na semana de seu aniversário, a receita da vez é o bolinho de carne do bar Braca, de Santana. Este, de fato, tem linhagem carioca: um dos sócios é Kadu, do Bracarense, no Leblon, que inexplicavelmente virou zonanorter em SP.

É uma variação do bolinho da Esquina do Souza, boteco do Augusto (o sócio paulista do Braca), que por sua vez homenageia o lendário bolinho do Bar do Luiz Fernandes, ali mesmo em Santana.

O bolinho é uma receita muito tradicional servida nos bares alemães da cidade. Frikadeller, almôndega, polpetta, é tudo bolinho de carne. Um petisco meio apátrida, a cara de São Paulo.

Quanto ao Braca, a birosca tem pedras portuguesas pretas e brancas pavimentando a entrada. Aqui é o Rio, mêo!

Bolinho de carne do Braca

Rendimento 24 bolinhos
Tempo de preparo 10 a 30 minutos

Ingredientes

  • 1 kg de carne moída
  • 2 pães desmanchados com água
  • 1 colher (sopa) de alho
  • 1 cebola picada
  • 1 colher (sopa) rasa de sal
  • 2 ovos batidos
  • Pimenta-do-reino e cebolinha picada
  • Óleo vegetal para fritar

Preparo

  • Coloque todos os ingredientes em uma bacia, amasse tudo até ficar totalmente misturado e modele os bolinhos
  • Frite em óleo bem quente para obter bolinhos com casca crocante e interior malpassado

Fonte: Folha de S.Paulo