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Os melhores botecos do mundo estão no Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro será minha base a partir de amanhã.

Deixo São Paulo por razões que não vêm ao caso. Tchau, Perdizes; alô, Ipanema. Teve gente que criticou a troca nas minhas redes sociais.

“A comida é muito melhor em São Paulo” foi o principal argumento contra a guinada à carioca. Segundo esse raciocínio, meu trabalho como cronista gastronômico seria prejudicado com a mudança.

Ouso discordar.

Morar em outra cidade abre horizontes. Na gastronomia e em qualquer outro campo. O trabalho só tem a ganhar.

Passarei boa parte do tempo em São Paulo, já que quase toda a minha família vive aqui. Não foi desta vez que vocês se livraram de mim.

E o termo “melhor”, além de subjetivo, é impróprio nesta situação. Que comida é melhor? A média de toda a comida? A alta gastronomia? A pizza paulistana certamente é melhor do que a carioca, mas e o resto? Na culinária portuguesa, para citar um exemplo, São Paulo não se equipara ao Rio.

Os botecos, que muito me interessam, são muito melhores no Rio de Janeiro.

O Rio tem os melhores botecos do Brasil. Do mundo, já que boteco é uma coisa brasileira.

(Parênteses obrigatórios aqui. Não conheço a cena botequeira de Belo Horizonte –falha terrível no meu currículo–, louvada por muitos beberrões de respeito. Posso vir a mudar de opinião mais tarde. No entanto, o “mundo” a que me refiro é o mundo que eu conheço. Paciência.)

Os bares paulistanos ganham em qualidade de comida e de serviço, isso me parece indiscutível. O que o “butkim” carioca tem é algo impalpável, uma integração com a comunidade que não se vê em nenhum outro lugar.

No Rio, o boteco cumpre uma função social fundamental. Ele é um hub do bairro, do quarteirão, dos vizinhos de prédio. Serve para pedir informação, para assistir novela, para receber encomendas do Correio, para se proteger da chuva, para esperar o tempo passar. Toda a vida da comunidade passa pelo boteco de alguma forma. Eles são marcos de resistência numa cidade assustada, depauperada e deprimida (sim, terei de lidar com isso).

Eu tenho alguma cancha na exploração botequeira no Rio –apesar de ser uma das pessoas menos cariocas já nascidas.

Comecei em 1998, numa viagem de férias. Choveu o tempo todo. Eu e meus amigos fomos ao shopping –olha que coisa! Numa livraria, compramos a primeira edição de “Rio Botequim”, que virou nosso guia oficial a partir dali.

Fomos ao centro, à Tijuca, a Copacabana. Enchemos a cara de empada, bolinho, pastel, sanduíche de pernil e hectolitros de chope. Fechamos uma noite no Jobi, com arroz de polvo e lombo com tutu.

Na manhã seguinte, um dos meus amigos deu PT –não é política, é a sigla de “perda total”. Foi à farmácia e saiu de lá com um remédio chamado Necrohepat. Não é preciso saber muito grego para entender que o nome significa “fígado morto”.

Desde então, os botecos estiveram na programação de todas as minhas idas ao Rio. Foram muitas.

Numa das mais recentes, estive a trabalho. Acho que era trabalho. Minha missão era registrar por escrito a viagem comemorativa do vigésimo aniversário do Pirajá –bar paulistano que homenageia o Rio.

Junto com os sócios do Pirajá, percorremos 20 botequins em três dias. Foi puxado. De novo, uma das noites terminou no Jobi –referência na saideira dos cariocas.

Daquela vez, quem teve perda total fui eu. Dormi na mesa do bar, algo que não me acontecia havia séculos.

Agora vou com mais tempo. Todo o tempo que for necessário. Prometo ficar de olhos abertos para as belezas, as delícias e os perrengues do Rio.

Aguardem notícias dos melhores botecos do mundo.

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Fonte: Folha de S.Paulo