
Nos anos 1980, os franceses inventaram o termo “gauche caviar”, logo traduzido no Brasil como “esquerda caviar”. A expressão se refere a pessoas oriundas da elite que militam na esquerda sem abandonar o gosto pela boa vida: viagens, compras de luxo e, obviamente, o prazer da gastronomia.
A direita adora apontar o dedão para a suposta hipocrisia de quem prega a igualdade social sem viver como um monge franciscano. Recentemente, o termo foi atualizado para “socialista de iPhone”. Mas fiquemos no caviar.
Não é que as preciosas ovas de peixe apareceram numa compra do Ministério da Defesa, feita com verba que deveria ser destinada ao combate da Covid-19?
Nossos milicos, leais defensores da disciplina e da vida espartana, homens direitos e de direita, sucumbiram à tentação de fazer banquetes com o dinheiro dos enfermos.
Segundo reportagem de Constança Rezende, os militares gastaram indevidamente R$ 535 mil em itens não-essenciais como filé mignon, picanha, bacalhau, camarão, salmão, caviar e bebidas alcoólicas.
A soma equivale ao custo de 33.754 doses de vacina contra a Covid-19 (a Fiocruz produz o imunizante da AstraZeneca por R$ 15,85).
Os milicos-caviar banqueteiam sobre os cadáveres de 619 mil brasileiros.
Em qualquer lugar quase sério, era o caso de queda de governo, renúncia coletiva e haraquiri. Mas… Brasil, né?
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Fonte: Folha de S.Paulo