Pular para o conteúdo

Festa do Divino, misto de fé e cultura popular, é celebrada em São Luiz do Paraitinga e Mogi das Cruzes

Karina Matias

São Paulo

Uma celebração que une fé e cultura popular. Assim é a Festa do Divino Espírito Santo, comemoração de origem europeia e católica que se mantém presente em várias cidades do país. Em São Paulo, Mogi das Cruzes (a 57 km de São Paulo) e São Luiz do Paraitinga (182 km de São Paulo) cumprem firme a tradição de festejar a manifestação do Espírito Santo sobre os apóstolos 50 dias após a Páscoa, no Domingo de Pentecostes.

Mais do que apenas um evento religioso, a celebração conta nas duas cidades com programação extensa, diversa e gratuita, que começa já a partir deste final de semana e segue até 9 de junho. Além de missas, procissões e novenas, há shows, apresentações de danças folclóricas e muitas atividades artísticas. 

Em Mogi das Cruzes, segundo os organizadores, é esperado um público flutuante de 200 mil pessoas apenas na quermesse. Um dos grandes destaques deste ano é o show do cantor Renato Teixeira, a partir das 20h30 desta sexta (31).

Já na pequena São Luiz do Paraitinga, que tem pouco mais de 10 mil habitantes e está localizada entre Ubatuba e o Vale do Paraíba, a expectativa é receber 30 mil pessoas nos dez dias de celebração. “Para o segundo fim de semana [nos dias 8 e 9 de junho], já estamos com 95% de ocupação dos hotéis e pousadas'”, afirma Netto Campos, diretor de cultura e turismo da cidade.

Conhecido pelo apelido de “Terra das Mil e uma Festas” por valorizar celebrações populares, o município de São Luiz do Paraintinga tem na Festa do Divino o seu evento mais tradicional. “A história da festa se mistura à história da própria cidade, que acaba de comemorar 250 anos”, afirma Campos.

As manifestações folclóricas são pontos altos dos eventos. Em São Luiz do Paraitinga, o desfile dos Bonecões João Paulino e Maria Angu é um dos destaques. Acredita-se que o casal foi criado em meados do século passado por um português que foi morar na cidade e achava que faltava no festejo uma atividade para as crianças.

A cavalhada é outra herança europeia que se mantém firme na Festa do Divino da pequena cidade histórica. Lá, é possível ver os cavaleiros de São Pedro de Catuçaba recriando os torneios medievais e as batalhas entre cristãos e mouros. Há também a Dança de Fitas (que lembra as quadrilhas de festas juninas) e os grupos de Congada e Moçambique.

Para a artesã Helen Rose Quessada, 58, que conheceu o evento há dois anos, o festejo é rico em cores, sabores e cultura popular brasileira. “Nós [ela e o marido] ficamos maravilhados com a festa. No primeiro dia, já saímos da pousada e fomos ver os preparativos”, conta. Ela lembra que também é bonito ver como a cidade conseguiu se recuperar da grande enchente que a devastou, em 2010.

BATIZADO DE ‘AFOGADO’, ENSOPADO DE CARNE É TÍPICO DA FESTA

Na culinária da Festa do Divino de Mogi das Cruzes e de São Luiz do Paraitinga, um prato simples de ensopado de carne com batata é a estrela da comemoração. A iguaria, que recebeu o inusitado nome de ‘afogado’, foi alimento dos tropeiros que seguiam de São Paulo para Minas Gerais em busca de ouro.

Nas duas cidades há distribuição gratuita do prato –em Paraitinga, será nos dias 1º, 8 e 9, e em Mogi no dia 8, após a Entrada dos Palmitos, cortejo folclórico realizado pelas ruas centrais da cidade e que é um dos destaques da programação na cidade. 

Além das atividades folclóricas, a programação religiosa é extensa e costuma reservar os momentos mais emocionantes da festa. Missas, procissões e novenas atraem centenas de fiéis. Muitos deles carregam sua própria bandeira em homenagem ao Divino.

Embora cada um possa enfeitar o seu estandarte de forma particular, eles têm algumas características semelhantes, como a cor vermelha, que representa o Divino, e a pomba branca no topo do mastro, símbolo do Espírito Santo. Tudo enfeitado com fitas coloridas –alguns devotos dão nó nessas fitas ao fazer uma promessa. “É uma festa que é pura fé e devoção”, resume a artesã Helen Rose Quessada.

Fonte: Folha de S.Paulo