Com a chegada de novos detentos ao Centro de Detenção de Etowah, em Gadsden, Alabama, aumentou a tensão porque um dos homens parecia doente. A notícia que se espalhava era que ele e os outros haviam sido expostos ao coronavírus. Os detentos exigiram que os recém-chegados fossem colocados em quarentena. Um agente penitenciário resistiu dizendo aos homens que, se não obedecessem à ordem de voltar para as celas, ele convocaria as “tropas”. Para os homens da unidade, as implicações das palavras do policial eram claras.
Karim Golding, veterano da unidade, decidiu que medidas desesperadas deveriam ser tomadas. O homem de 35 anos deslizou entre as barras de uma grade do segundo andar. Ele amarrou uma ponta de uma corda de lençóis no parapeito, enrolou a outra ponta em um laço em volta do pescoço. Tefsa Miller, de 39 anos, logo se juntou a ele e fez o mesmo. No lado oposto da unidade, um homem transmitiu ao vivo a cena em seu celular, capturando um momento que, de outra forma, não seria visto pelo mundo exterior. “Isso está a ponto de se tornar um suicídio”, disse ele. “Os dois estão prestes a se enforcar”.
Os homens não saltaram da grade. As tropas nunca vieram. O plano de Golding pareceu funcionar, pelo menos por um momento, forçando um diálogo entre detentos e funcionários da cadeia que levou à resolução pacífica de um confronto acalorado. No entanto, os dramáticos eventos que se desenrolaram na noite de 20 de março revelaram uma realidade sombria: À medida que o coronavírus atinge o país, uma maré crescente de terror e um profundo sentimento de abandono estão surgindo em seu sistema de detenção de imigrantes.
Trancados em lugares fechados em todo o país, onde o distanciamento social é impossível e as falhas na prestação de cuidados médicos adequados vêm de longa data, dezenas de milhares de pessoas agora esperam o pior. Golding, em entrevista ao Intercept, disse que o ocorrido em Etowah no mês passado foi o ápice de anos de frustração por parte dos detentos de imigração e fiscalização aduaneira dos EUA na remota instalação do Alabama, frustrações que adquiriram uma urgência de vida ou morte com o coronavírus invadindo os Estados Unidos e se espalhando cada vez mais pelo sul do país.
Apesar do protesto dramático do mês passado, o ICE continua a enviar detentos para a prisão do Alabama, incluindo indivíduos que passaram por instalações com infecções confirmadas por coronavírus. Recentemente, as autoridades de Etowah transformaram duas unidades em uma, praticamente dobrando o número de homens que dividiam o espaço da noite para o dia.
“Somos as últimas pessoas a serem protegidas”, disse Golding ao Intercept. “E daí se morrermos? Essa é a atitude das pessoas aqui. Essa é a atitude do procurador-geral. Essa é a atitude do presidente”. As ações do ICE nas últimas semanas revelaram um cálculo macabro que valoriza o lucro carcerário sobre a vida humana, argumentou Golding. Por fim, ele disse: “Enterros são mais baratos que deportações”.
Em e-mail para o Intercept, Bryan D. Cox, diretor de assuntos públicos do ICE na região sul, disse que o “breve e pequeno protesto” era “baseado em informações imprecisas”. Cox acrescentou: “Não há ninguém sob custódia do ICE nas instalações do Condado de Etowah com suspeita de covid-19. Rumores do contrário são falsos e espalham o medo desnecessariamente através de informações erradas”.
Fonte: Brazilian Press