
As férias de verão estão só começando, mas estudantes, professores e pais já estão pensando em como será o retorno às escolas em agosto, enquanto o estado ainda lida com a pandemia do novo coronavírus. Assim como acontece com lojas e restaurantes, as escolas da Flórida terão que se ajustar ao “novo normal” quando o ano letivo 2020-2021 começar.
Sem aulas presenciais desde março, alunos, pais e professores estão ansiosos pelo retorno. Outros nem tanto. As mudanças sobre o ensino escolar e o retorno às salas de aulas dividem opiniões. As recomendações propostas pelas autoridades incluem testagem da Covid-19 nos estudantes, funcionários e visitantes, ajustes no horário das aulas e transporte dos alunos, alterações no calendário escolar, aulas mesclando ensino virtual e presencial, e incentivo à contratação de mais conselheiros e psicólogos para ajudar no bem-estar social e emocional dos alunos.
Governo quer retorno às salas de aulas
O governador da Flórida, Ron DeSantis, anunciou nesta quinta-feira US $ 64 milhões em financiamento para ajudar a melhorar a proficiência dos estudantes em todo o estado, a fim de atender à “lacuna de aproveitamento” causada pela pandemia.
O dinheiro, parte da ajuda de alívio ao coronavírus do governo federal, será usado para abertura de programas de verão nas escolas para leitores com dificuldades, novos materiais de leitura e contratação de treinadores de leitura. O estado também alocará fundos para programas pré-K e de assistência infantil.
DeSantis e Richard Corcoran, representante da comissão de educação da Flórida, pediram a reabertura total das escolas neste outono. Segundo o governador, os planos específicos podem variar por condado.
As 12 universidades públicas da Flórida planejam reabrir os campi em agosto e o Departamento de Educação da Flórida (DOE, na sigla em inglês) deverá em breve delinear como as 4.000 escolas públicas do estado receberão de volta 2,9 milhões de alunos do ensino fundamental e médio neste outono.

Plano para aulas em tempo de pandemia
A Associação de Educação da Flórida (FEA, na sigla em inglês), o maior sindicato de professores de ensino fundamental e médio do país, com mais de 145.000 membros, apresentou no dia 2 de junho um plano que explica como ele acha que o Departamento e o Conselho Estadual de Educação (State Board of Education -BOE) devem prosseguir.
“Faltam cerca de 70 dias para os estudantes voltarem aos campi. É imperativo avançarmos para que esse retorno seja seguro e bem-sucedido ”, twittou o presidente da FEA, Fedrick Ingram.
Dentre as recomendações estão também ajustar o tamanho das turmas, o recreio, a hora do almoço e a educação física e alterar o número de alunos nos ônibus. Eles também acham necessária uma abordagem híbrida de ensino que possa incluir uma combinação de ensino presencial e online se aulas presenciais ou distanciamento social não forem possíveis em determinados distritos ou escolas.
Além dessas, sugeriram também suspender testes padronizados e algumas avaliações, escalonar horários escolares, eliminar temporariamente exercícios conjuntos como treinamento de atirador ativo e impor regras de distanciamento social em salas de aula, lanchonetes e ônibus.
A Associação dos Superintendentes de Escolas Distritais da Flórida (FADSS) enviou no mês passado um Plano de Recuperação Educacional COVID-19 e as Diretrizes de Retorno para a Escola K-12 ao Conselho Estadual de Educação. Os distritos terão flexibilidade para tomar suas próprias decisões, segundo o Departamento.

Broward, Miami-Dade, Palm Beach e Orange counties
As Escolas Públicas do Condado de Broward divulgaram o calendário para o novo ano letivo 2020-2021 com o primeiro dia de aula marcado para 19 de agosto. As Escolas Públicas do Condado de Miami-Dade e o Distrito Escolar do Condado de Palm Beach pediram recentemente aos pais que preenchessem uma pesquisa sobre o retorno e estão analisando.
As Escolas Públicas de Orange County declararam que formarão grupos de trabalho para ajudar a elaborar diretrizes, mas apenas compostos por funcionários da escola. A Associação de Professores de Sala de Aula do condado de Orange se reuniu com o distrito escolar para discutir a reabertura das escolas e por enquanto disseram que estão esperando mais orientações do Departamento de Educação da Flórida.
Assim como as propostas da FADSS, o plano da FEA sugere que as escolas testem tanto os alunos quanto os professores e funcionários, reconfigurem as salas de aula para limitar o contato entre os alunos e que os professores – e não os alunos – mudem de sala de aula para impedir que os alunos lotem os corredores.
Também semelhante às propostas do FADSS, a FEA pediu a incorporação do ensino à distância em uma “programação híbrida” e pediu ao DOE que permitisse aos distritos escolares mudar o horário da sala de aula e a duração do ano letivo.
“Enquanto as escolas públicas da Flórida olham para a reabertura, temos uma vantagem significativa que não tínhamos quando foram fechadas: hora”, disse o relatório da FEA. “Devemos usar o tempo entre agora e o outono para criar planos que garantam não apenas que a reabertura seja segura, mas que reconheçam o fechamento dos campi das escolas que tiveram um impacto grande nos alunos mais carentes da Flórida”.

O que pensam os pais e professores
O Gazeta News buscou a opinião de alguns pais brasileiros na Flórida. Alguns dizem que querem voltar com os filhos para a escola, outros decidiram matricular os filhos em ‘homeschooling’ e outros acham melhor uma mistura dos dois tipos de ensino.
Para Jamile Pedro, mãe de Enzo Pedro , 12 anos, que estudava na Omni Middle School, em Boca Raton, esse período que o filho passou com aulas pela internet foi revelador porque, segundo ela, ele gostou. Mesmo assim, a família optou por colocá-lo em uma escola privada.
“Meu filho me surpreendeu ao dizer que está preferindo a escola online do que as aulas presenciais. Ele diz que consegue utilizar o tempo melhor estudando em casa. Está feliz porque sobra mais tempo para outras atividades. As notas caíram um pouco de A para B, porém, vejo meu filho mais feliz e tranquilo”, analisa.
Sobre a decisão de mudá-lo para uma escola privada, a dentista entende que sentirá mais segurança com as diretrizes tomadas pela escola que escolheram. “Não tenho nada a reclamar da escola pública. Mas nesta, o número de alunos por sala é bem menor e o Campus da St Andrew’s scholl é mais arejado”, conta.
Mas apesar da decisão, a família prefere ainda aguardar um pouco mais e manter o ensino on-line. “Por mais que a escola virtual tenha sido uma experiência positiva em nossa casa, nada substitui a escola presencial. As crianças precisam aprender em sociedade. Nossa opção é manter a escola virtual até que saibamos melhor sobre esse vírus. Talvez alguns meses até um ano. Tudo passa”, finaliza.
“Escolas não atingem o potencial de todas as crianças”
Com três filhos e dois em idade escolar, Viviane Goldener resolveu que será melhor continuar a ensiná-los em casa. “Meu filho mais velho se chama Benyamin (nome hebraico -Benjamin, em português) e tem 9 anos. A minha do meio é a Tzofia (Sofia) e tem 6 anos. E o pequeno Yosef, de 2 anos. Sempre senti que as escolas não atingem o potencial de todas as crianças. Na verdade, os dois mais velhos já estavam fazendo ‘homeschooling’ meio período. Eles iam para escola só até 12h30. Agora estamos pensando no ensino em casa completo por causa da pandemia. Meus filhos aprendem mais e melhor, além de estarem em um ambiente calmo. Também por ter a liberdade de acrescentar ou retirar ensinamentos do currículo e de poder ensinar em qualquer lugar do mundo, no stress. Mas confesso que no começo não é fácil até todo mundo se acostumar e criar uma rotina”, destaca a mãe, que fica por conta do ensino dos filhos.
Socialização faz falta
Já para Patrícia Kyrillos, o bem-estar da filha Beatriz Gonzales, de 13 anos, em socializar na escola conta muito e por isso prefere voltá-la ao ensino presencial. “Tranquilo realmente ninguém está. Acredito que no começo será uma adaptação complicada até chegarem num consenso do que realmente funciona na prática ou não. Esse vírus vai conviver conosco como o H1N1 e tantos outros e a vida social é muito importante para a criança. Na minha opinião, se vemos adultos surtando por estarem em quarentena, imagina como está a cabeça das crianças? Ir à escola e seguir as regras lá talvez mude o foco e prejudique menos o psicológico delas”, afirma.

Professora de crianças com deficiência visual em Miami-Dade, Cristiane Martins conta por que entende que o ensino à distância seja melhor, pelo menos por enquanto.
“Tudo o que está acontecendo é muito novo, não se sabe como será no próximo semestre. No meu caso que trabalho com crianças cegas, fica bem complicado, mas a tecnologia ajuda muito. Eu forneci para minhas crianças máquinas de braille que fala, então eu consigo escutar o que eles estão escrevendo. Vamos nos adaptando e fazendo o melhor possível com eles. Mas tenho um aluno que a atenção dele está muitíssimo melhor porque não tem a distração das outras crianças, por exemplo. Eu prefiro que o próximo semestre seja online novamente, agora estaremos mais preparados. Miami-Dade se preparou muito bem fornecendo laptop para todas as crianças e internet gratuita. Acho que vai voltar ao novo normal, como está se dizendo. Mas muitas mães vão adotar o ‘homeschooling’ que antes não conheciam”, salienta.
Related Images:
[See image gallery at gazetanews.com]
O post Com a pandemia, como deve ficar o ensino escolar na Flórida no próximo ano letivo? apareceu primeiro em Gazeta News: O maior Jornal Brasileiro da Florida, nos EUA.
Fonte: Gazeta News