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Cartões de débito internacionais: Wise, Nomad, Inter, C6 e BS2

A possibilidade de usar cartões de débito em moeda estrangeira está chacoalhando a maneira como brasileiros gastam no exterior. A novidade surgiu quando bancos digitais, como BS2, C6 e Inter, e também fintechs, como são chamadas startups do mercado financeiro, como Nomad e Wise, passaram a oferecer conta corrente em dólar – e, mais recentemente, também em outras moedas estrangeiras – para clientes residentes no Brasil. 

A vantagem desse sistema de pagamentos é operar com o IOF de 1,1%, que é o valor cobrado pelo governo brasileiro para remessas internacionais para uma mesma titularidade, contra uma taxa de 5,38% que é cobrada pelos cartões de crédito a cada compra feita no exterior. Além disso, esses métodos também possuem taxas mais parecidas com o dólar comercial, que é mais barato que o dólar turismo utilizado na maioria das transações em moedas estrangeiras no Brasil. Outra vantagem é facilitar o planejamento, já que é possível calcular exatamente qual vai ser o custo da compra de moeda estrangeira, e não depender da variação do câmbio durante a viagem.

O processo é semelhante ao de abrir uma conta corrente em um banco digital e transferir dinheiro entre contas da mesma titularidade (via PIX ou TED). O mais comum é que as contas digitais sejam carregadas apenas em moeda forte, como dólar ou euro. A conversão é feita pela cotação comercial do dia, acrescida de uma taxa extra que varia de banco para banco, chamada spread (que pode variar de 0,99% até 2%). Esse spread é sempre mais baixo durante o horário comercial, por isso é importante fazer as transferências de reais para dólar durante a semana, das 10h às 16h.  

As contas digitais são quase sempre em dólar. Mesmo assim, os cartões de débito podem ser usados em países que não usam dólar. Nesses casos, a cada compra, o valor gasto na moeda local é convertido para dólares ou euros, a depender da moeda da conta digital escolhida. Em termos de tarifação, o que vai acontecer é uma cobrança dupla do spread (geralmente totalizando até 4%), que ainda assim é menor que o IOF do cartão de crédito, que é de 5,38%.

Além de trazer uma grande economia de IOF em relação aos cartões de crédito internacionais, essa modalidade também pode ser mais prática do que o uso do dinheiro vivo porque tudo é feito de maneira digital. Usar as contas em dólar ou em outras moedas estrangeiras geralmente sai mais barato até do que comprar moeda em casas de câmbio, opção que era a mais econômica até a chegada dessas alternativas ao mercado brasileiro.

As facilidades desses novos meios de pagamento são grandes, mas eles também têm suas limitações. Fintechs como Wise não oferecem acúmulo de pontos em programas de fidelidade, como ocorre com cartões de crédito do tipo platinum ou black. Há relatos de viajantes que não conseguiram utilizar o cartão em alguns países (veja abaixo possíveis problemas que o próprio usuários pode solucionar). Além disso, o cartão de crédito ainda é essencial para gastos que exigem o bloqueio de um valor de caução, como em locadoras de carros e hotéis.

A emissão de cartões físicos é cobrada e pode levar semanas para chegar. Já os cartões virtuais, que existem apenas no celular e só podem ser usados em maquininhas do tipo contactless, não têm custo. No entanto, eles só funcionam quando o celular está conectado à internet, ou seja, é preciso ter um chip internacional ou ativar o roaming durante a viagem para realizar os pagamentos. 

Assim, o ideal para evitar apertos é mesclar mais de uma modalidade, e não contar com apenas uma alternativa veja aqui os prós e contras de levar dinheiro vivo, cartão de crédito e cartão pré-pago. 

Abaixo, confira como funcionam as principais contas digitais em moeda estrangeira que operam no Brasil:

⇒ Wise

Plataforma mais completa e popular, também é a que oferece as tarifas mais baixas. Antes chamada TransferWise, ela foi criada para facilitar transferências entre bancos de diferentes países. Mais tarde, a ferramenta mudou de nome e se popularizou ao criar a conta multimoedas, que permite que o cliente transfira dinheiro de sua conta em reais para contas digitais em 49 moedas diferentes (é o melhor produto para quem estiver fazendo mochilão pela Ásia e trocando de moeda a toda hora porque você pode creditar diretamente em baht tailandês, ringgit malaio, dong vietnamita e por aí vai). Também é possível ter no cartão valores em dólar ou euro e efetuar pagamento em outra moeda, mas tenha em mente que nessa operação incidirá mais um spread.

A conta na Wise pode ser aberta digitalmente, sem custo, e o cliente pode solicitar um cartão de débito da bandeira Visa ao custo de 7 libras (cerca de R$ 43, sem anuidade ou mensalidade) que leva, em média, cerca de uma semana para chegar em endereços do Brasil (nas redes sociais há relatos de usuários que esperaram mais tempo). Pegadinha: muitos usuários relatam que tiveram dificuldade de usar o cartão na Holanda porque a bandeira mais usada por lá é a Mastercard.

O cartão também permite dois saques em caixas eletrônicos no exterior sem custo por mês, desde que eles somem até R$ 1.400. Acima deste valor, o valor é de R$ 6,50 por saque, com uma taxa de 1,75% sobre saques acima de R$ 1.400.

As taxas de spread cobradas pela empresa para enviar dinheiro para a conta multimoedas também são bastante transparentes, e é possível fazer simulações no site para verificar qual vai ser o custo final de cada operação. As tarifas variam de acordo com a moeda utilizada e também com o método usado para a transferência – o mais comum é fazer uma transferência do tipo TED da sua conta corrente brasileira para a conta da Wise com o valor exato da cotação solicitada pelo app, já com as taxas incluídas. 

Vantagens: custo baixo, maior variedade de moedas

Desvantagens: não oferece programa de pontos, cartão físico é cobrado

⇒ Nomad

Sediada nos Estados Unidos, a empresa opera de maneira similar à Wise, mas oferece apenas a conta global em dólar. Para usar o cartão de débito em compras com outras moedas, a conversão é feita pela cotação interbancária da Mastercard, que é inferior e, portanto, mais vantajosa que o dólar turismo. Embora a abertura da conta seja gratuita, e o cartão digital seja emitido sem custo, o envio de cartão físico custa US$ 20. 

No geral, as taxas cobradas fazem com que as transferências sejam ligeiramente mais caras do que usando a Wise, mas o uso da ferramenta ainda é mais barato do que as alternativas comuns, como cartão de crédito ou dinheiro vivo. Além disso, como a empresa tem sede na Califórnia, valores de até US$ 250 mil nas contas correntes são assegurados por instituições financeiras americanas.

A plataforma oferece como um de seus diferenciais uma sala VIP no Aeroporto de Guarulhos, inaugurada em meados de fevereiro de 2023, cujo acesso depende do valor em dólares disponível na conta. Há ainda a possibilidade de acúmulo de pontos no programa Nomad Pass. Os pontos podem garantir o envio gratuito do cartão físico. O spread cobrado sobre o valor do dólar comercial também varia de acordo com a categoria do cliente no programa Nomad Pass: chamado de taxa de serviço, o spread começa em 2% para quem transfere até US$ 1 mil e pode cair para 1% para quem já transferiu mais de US$ 20 mil para a conta digital.

Vantagens: programa de pontos, sala VIP no Aeroporto de Guarulhos

Desvantagens: custo mais alto que Wise, cartão físico é cobrado

⇒ Inter

Chamada de Global Account, a conta internacional do banco Inter é exclusiva para correntistas do banco que residem no Brasil. A abertura da conta é feita pelo aplicativo do banco (antes, a ferramenta usada era o aplicativo Usend). 

Apesar de oferecer apenas conta internacional em dólar, o cartão de débito permite fazer compras e saques em qualquer moeda, em diversos países. Nesses casos, a conversão da moeda local para dólar é feita de maneira automática pela cotação praticada pela MasterCard, sem spread adicional. 

A conversão para dólares é feita por meio da transferência de valores em reais da conta brasileira no banco Inter para a conta em dólares do mesmo banco. Assim como em outras alternativas, essa transferência tem IOF de 1,1%. 

O banco Inter usa a cotação comercial do dólar para a conversão das transferências para a conta internacional. Em cima do valor do dólar comercial, é cobrado ainda um spread fixo de 0,99%. 

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O envio do cartão de crédito físico é gratuito para clientes que possuam mais de US$ 50 na conta, e pode ser solicitado pelo aplicativo. Os saques em dinheiro em caixas eletrônicos da rede Allpoints nos Estados Unidos não são tarifados, mas saques em outras redes e em caixas eletrônicos de outros países estão sujeitos às taxas específicas de cada equipamento. 

Vantagens: spread baixo, saques gratuitos nas redes conveniadas

Desvantagens: exclusivo para clientes do banco

⇒ C6

O banco brasileiro oferece dois tipos diferentes de conta digital internacional: a C6 Global Euro e a C6 Global Dólar. Trata-se do único banco que trabalha com as duas moedas, e não apenas com dólar (a Wise, embora tenha várias moedas disponíveis, não é um banco). Para abrir a conta internacional do C6, é preciso ser correntista.

Apesar da vantagem de oferecer conta tanto em dólar como em euro, a plataforma perde pontos por cobrar uma tarifa para a abertura da conta (US$ 10). Esta cobrança, no entanto, não ocorre para clientes que possuem cartão C6 Carbon Mastercard Black ou investimentos que somem no banco que somem mais de R$ 20 mil. Os outros clientes precisam pagar a taxa de adesão, mas recebem o dinheiro de volta na forma de “cashback” ao fazer um câmbio inicial de US$ 100 ou € 100 em até dez dias após a abertura da conta.

Na hora de transferir o dinheiro, em reais, para as contas internacionais, o valor de spread cobrado sobre o valor do dólar comercial é de 2%, enquanto a conta em euro tem taxa de 2,5%. Para o uso de outras moedas em compras ou saques, a conversão é feita pela cotação comercial daquela moeda em relação ao dólar ou euro, acrescida de um spread de mais 2%.

O banco também cobra uma taxa extra a cada saque com o cartão de débito (US$ 5). Finalmente, há ainda uma taxa de inatividade (US$ 10) cobrada após 12 meses sem movimentações. 

O cartão físico é entregue em casa sem custo extra, mas alguns clientes relatam atrasos. 

Embora o C6 possua um programa de pontos para gastos no cartão de crédito, as compras feitas com o cartão de débito da conta global não pontuam.

Vantagens: conta em dólar ou euro

Desvantagens: exclusivo para clientes do banco; abertura da conta e inatividade são cobradas (US$ 10 cada)

⇒ BS2

Lançada pelo banco BS2, antigo Banco Bonsucesso, a conta digital é disponibilizada apenas em dólar e inclui um cartão de débito internacional da bandeira MasterCard. 

Uma das vantagens da plataforma é que não é necessário ser correntista, basta transferir seus reais da conta bancária que você já usa normalmente no Brasil diretamente para a conta digital em dólar, chamada BS2 Go.

A conversão de reais para dólares é feita com base na cotação comercial, acrescida de um spread de 2%. Já no caso de compras ou saques em outras moedas, a conversão delas para o dólar tem spread adicional de 2% sobre a cotação interbancária usada pela MasterCard.

Além disso, a plataforma cobra taxa de saque de US$ 5 para uso em caixas eletrônicos. O envio do cartão de débito físico não é cobrado.  

Vantagens: não é exclusivo para clientes do banco, cartão gratuito

Desvantagens: custo mais alto que Wise, saques são cobrados

POSSÍVEIS PROBLEMAS (QUE VOCÊ PODE RESOLVER)

A reclamação mais comum em relação às contas digitais é o cartão físico não ter funcionado na hora agá. Caso o problema aconteça com você, vale tentar passar o cartão de todas as formas: por aproximação, inserindo na maquininha ou então via celular pelo cartão digital. Outra dica é ficar de olho nas configurações da conta. Sua compra pode não estar sendo autorizada porque há um limite baixo pré-estabelecido por transação e que você pode alterar pelo aplicativo. Também há casos em que o banco, por questões de segurança, pede que você autorize uma compra de valor alto pelo aplicativo. Vale lembrar ainda que é preciso desbloquear o cartão antes do primeiro uso.

A tabela a seguir compara as principais características de cada conta:

tabela
(Julia Ruivo/Viagem e Turismo)

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Fonte: Viagem e Turismo