

Aos 21 anos, Paul Fernando Schreiner foi condenado por ter feito sexo com uma adolescente de 14 anos em Nebraska
O drama vivido por Paul Fernando Schreiner, natural do Rio de Janeiro e adotado por um casal americano há 31 anos, é exemplo de que imigrantes que possuem a residência legal permanente nos EUA (green card) podem ser deportadas, caso sejam condenados por crimes graves. Ele foi adotado aos 4 anos de idade num orfanato na cidade de Nova Iguaçu (RJ) e levado para Nebraska, onde cresceu e teve uma adolescência problemática. Os pais adotivos dele, Roger e Rosanna, nunca o naturalizaram americano, deixando que ele posteriormente decidisse.
Limpador de piscinas, na manhã de 22 de outubro de 2017, Paul se dirigia ao trabalho no Arizona quando foi parado na estrada por agentes do Departamento de Imigração (ICE) durante uma blitz. A operação buscava encontrar imigrantes indocumentados passíveis de deportação.
Os problemas de Paul começaram aos 19 anos de idade, quando foi preso por conduta inapropriada: Andar com meninas de 12 anos, uma contravenção penal. Devido a esse registro policial, em 2004, ele ficou sob a custódia do ICE. Na ocasião, as autoridades americanas solicitaram ao Itamaraty os papéis brasileiros dele para deportá-lo. Por questões humanitárias, o consulado brasileiro negou o pedido. O Consul Geral Alexandre Addor Neto alegou que a deportação de um adotado sem qualquer laço ou afinidade com seu país de origem “seria considerada uma violação dos direitos humanos”. O Brasil não emite documentos de viagem para indivíduos nessa situação. Entretanto, em 24 outubro de 2017, o consulado brasileiro em Los Angeles (CA), cuja jurisdição inclui o Arizona, emitiu o atestado de nacionalidade de Paul, permitindo que ele fosse deportado.
Aos 21 anos, em 2005, Paul foi preso novamente devido à acusação de ter feito sexo com uma adolescente de 14 anos de idade que ele conheceu numa feira. Segundo os autos do processo, a jovem teria fugido de casa e testemunhado que o ato foi totalmente consensual. Entretanto, conforme a lei em Nebraska tratava-se de “abuso sexual de menor”. Ele foi condenado e cumpriu pena até 2015. Ao sair, decidiu recomeçar a vida no Arizona, onde foi preso a caminho do trabalho e posto em processo de deportação.
A certidão de nascimento brasileira de Paul indica que ele nasceu em Nova Iguaçu, mas não contém os nomes dos pais biológicos dele ou local de nascimento. Durante o processo de adoção, os pais americanos dele utilizaram esse documento para trazê-lo aos EUA. Entretanto, esse mesmo documento não determina quem são os pais dele e em que lugar exato no Brasil ele nasceu, dois dados fundamentais para definir nacionalidade.
Atualmente, Paul mora na cidade de Niterói (RJ), na residência de um pastor evangélico que o acolheu. Ele não fala o português, tem dificuldade em aprender o idioma e se emociona ao falar das 3 filhas, parentes e amigos que deixou nos EUA. Atualmente, ele tenta adquirir o status de “apátrida” (sem pátria), o que permitiria que ele pedisse asilo ao Canadá, consequentemente, ficando mais próximo da família dele. Provavelmente, Paul nunca mais poderá entrar nos EUA. Ele acredita que poderia obter a liberdade se tivesse permanecido em solo americano, como obteve o habeas corpus em 2004.
“Só dei entrada no sistema da Polícia Federal dias depois, quando fui ao posto deles em Niterói fazer o pedido para me tornar apátrida. Não quero a nacionalidade brasileira”, disse ele à revista época. “Meu orgulho é saber que eu deixei um legado lá. Minhas filhas são americanas, como eu. Eu não pedi para morar nos Estados Unidos. Eu fui escolhido”.
Ainda em fevereiro, Paul planeja ir à Brasília (DF) e tentar contato com as autoridades dos Três Poderes. Enquanto espera, ele pensa em trabalhar em algum time de futebol americano.
Fonte: Brazilian Voice