A polêmica (mais uma!) começou em Washington, na fala do filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro.
Ele disse que os brasileiros indocumentados envergonham o Brasil.
Depois, tentou se corrigir, falando daqueles que cometem crimes em outro país.
Na sequência, foi o pai, que para bajular Donald Trump, jogou mais gasolina na fogueira, dizendo ser a favor do muro na fronteira dos Estados Unidos com o México, e que a maioria das pessoas que cruzam a fronteira não são tomadas por boas intenções.
Sério?
Ficasse calado, seria tomado por sábio.
Na pior das hipóteses, um poeta.
Dizer que foi uma gafe, seria elogiá-lo.
Para piorar, criticou a França, numa atitude nada presidencialista. Ainda terá que se explicar a franceses e mexicanos.
Pronto.
Ponto.
Fizeram a festa dos detratores.
Eles não teriam do que se queixar, como fazem agora, garotos inconsequentee e mimados que são.
Eduardo citou um traficante de drogas, Marcos Archer, morto por fuzilamento na Indonésia. Mas não citou um único brasileiro que tenha ajudado a família no Brasil.
Nenhum brasileiro que tenha escrito uma história de sucesso vivendo fora do torrão natal.
E elas existem, as histórias de sucesso, existem, aos milhões.
Não haveria, entre todos nós, uma única história que merecesse ser lembrada pelo deputado ou por seu pai presidente?
Quantos jovens brasileiros foram para uma universidade brasileira beneficiados por remessas de dinheiro de um parente emigrante?
Quantas vidas foram salvas pelo dinheiro enviado por um amigo, um pai ou mãe, um irmão, custeando tratamentos médicos, internações e remédios?
Bairros foram erguidos no Brasil, com o nosso suor misturado à areia e ao cimento das casas e prédios anunciados na internet, nos jornais e na televisão.
Tantos!
Quantos?
A economia de cidades inteiras foi revigorada graças aos “recursos” de seus emigrados.
Pergunte em Reserva, no Paraná.
Em Governador Valadares e Conselheiro Pena, em Minas Gerais.
E a tantas outras cidades.
Milhões de imigrantes brasileiros (pelas estimativas do Itamaraty somos quase 5 milhões) trabalhadores e ordeiros – a esmagadora maioria do contingente -, participamos do crescimento de dois países.
E o fazemos de forma abnegada, honesta, e sob condições quase nunca favoráveis.
Mas os Bolsonaro só querem saber de lamber as botas de Donald Trump.
Isto é muito feio, convenhamos, principalmente em um momento em que alguns países da Eurpa começam a exigir vistos dos norte-americanos, respeitando os princípios da reciprocidade.
E não me venham com a conversa mole de que a não exigência de visto – que até ontem rendiam mais de 60 milhões de reais ao Brasil – acelerará a visitação de turistas.
Os estrangeiros não preferem o Brasil nas suas férias em detrimento de outros países pela exigência de um visto.
Eles não vão ao Brasil porque temem por suas vidas.
Ponto final.
Quanto aos Bolsonaro, eles não se manifestaram desta forma “envergonhada”e trumpista quando vieram aos EUA pedir o apoio da comunidade para se elegerem no Brasil.
Tivessem dito as asneiras de agora, naquela altura, certamente não teriam tido o apoio que tiveram.
E as ramifificações do que dizem e tencionam fazer, certamente afetarão profundamente as nossas vidas.
Hoje, o Itamaraty informou que está em negociações com o governo Trump para a aceleração do processo de deportação de brasileiros detidos pela imigração.
Sério?
Eles se esqueceram de perguntar a esses brasileiros se querem a intervenção.
Muitos aguardam por um apelo ou uma concessão de fiança, mas terão que retornar, imediatamente, tendo agora a participação efetiva e nociva dos consulados espalhados pelo país.
Não me tomem por oposicionista radical, apesar de não estar otimista com o que se apresenta diante dos meus olhos.
Eu não estou torcendo para este governo dar errado.
Muito pelo contrário.
Muitos amigos e familiares meus ainda vivem no Brasil.
E eu não quero que sejam penalizados.
Quero que as coisas mudem e melhorem para o povo já tão sofrido, após ter sido enganado tantas vezes. Mas ele está sendo ludibriado ais uma vez. Só que agora existe um requinte de crueldade.
Será que já se esqueceram do famigerado caçador de marajás?
Ou terei que lembrá-os?
Trata-se da lesma lerda.
Eu não gosto do que vejo e escuto dos Bolsonaro, mesmo sendo tão criticado por bolsonaristas, que veem na minha desconfiança uma espécie de amargura derrotista.
Quero ver o presidente e seus filhos falarem e fazerem algo de verdadeiramente bom, que beneficiasse todos, que falassem menos besteira, que praticassem o bem comum, ao invés do ódio de cada fala, e que as palavras deles fossem em busca de melhoria e não nessa busca de ódio e preconceito.
O discurso de Bolsonaro e seus filhos não ofendem apenas o bom senso.
As declarações são atentados às iberdades civis, tão custosamente conquistadas pelas gerações anteriores às minhas.
Mas são muito mais.
Os Bolsonaro vomitam disparates e há quem os aplauda.
O que me causa náusea profunda.
O resto, todo o resto, quem viver, verá.
Fonte: Brazilian Voice