No destino de cada pessoa pode haver um fim do mundo feito só para ela.
Se chama desespero.
Victor Hugo
Quantas vezes ouvimos dizer, “Ah, se eu pudesse mudaria tudo amanhã!”.
E, entretanto, a verdade é que postergamos as mudanças. Embaçamos, adiamos, inventamos desculpas, imaginamos soluções paralelas que eliminam aquela necessidade de mudança que havíamos acabado de suspirar por acontecer.
Parece até que não nos sentimos prontos para o que tanto queremos. Desejamos, jogamos o desejo no universo e depois recuamos. Mudamos de assunto, nos distraímos e deixamos tudo do jeito que está.
Este comportamento é uma manifestação visível do que foi identificado na interpretação dos sonhos há mais de um século por Freud. Chama-se resistência.
A resistência é o nome que Freud deu a um mecanismo psíquico que impede a entrada de novos conteúdos na consciência. Tanto nos sonhos como na vida acordada, há coisas que “não tem permissão” de serem pensadas, sentidas ou mesmo reconhecidas. Quando a resistência atua nos sonhos, os conteúdos censurados são apresentados de forma disfarçada ou distorcida. É como se o inconsciente dessa uma “indireta”. Quando a resistência ocorre na vida diurna algo muito parecido se repete: temos dificuldade em enxergar o caminho para a mudança, mesmo quando está debaixo do nosso nariz. A resistência psicológica bloqueia nosso entendimento e, portanto, nossa ação. “Protege” a consciência do que poderia coloca-la em discussão.
A consciência é como uma cidadela com altos muros que protegem contra invasões. Algumas são tão fortificadas que mesmos quando seus habitantes estão passando fome por falta de nutrimento (como quando temos uma vida muito entediante, chata e, assim, deprimente), ela não abre. O centro de comando da cidadela não deixa entrar nada. parece até que o portão de entrada de tanto tempo que está fechado ficou enferrujado…
O que expressa a triste realidade de estarmos, no fundo, viciados no que somos, na vida que levamos, no mal que sofremos. Nos acostumamos. Mesmo desejando a mudança de todo coração, tememos o fim que ela acarreta.
Toda mudança implica uma morte.
Toda mudança real, que não for de fachada, de maquiagem, equivale a um fim, e todo fim é uma morte.
Deixar o passado significa deixar o que somos e nesse processo abrir o espaço para uma nova identidade que vai surgindo conforme a outra for morrendo.
As muralhas da cidadela interna são espessas e antigas. Para que o novo possa ter espaço é preciso, às vezes, aliás, muitas vezes, de um verdadeiro terremoto. Terremoto que nós mesmos temos que fazer acontecer.
Destruir para criar.
Uma espécie de vandalismo interior que sacode, derruba, violenta as nossas próprias barreiras, os nossos medos, os nossos limites enrijecidos no “não”. Precisamos usar de força bruta onde há muros grossos demais, antigos demais.
A resistência psicológica nos sufoca, paralisa a espontaneidade e impede o desabrochar do novo. Logo nos mata por dentro.
Quando a dor chega na temperatura certa, então a pessoa consegue aquela bendita coragem para despedaçar as próprias limitações, arrancar os portões, escancarar as janelas e deixar entrar o ar fresco de uma nova primavera.
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Fonte: Gazeta News