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Trilha Transmantiqueira, uma caminhada de 950 quilômetros

Começa a sair do papel, nesta sexta-feira (25), um dos mais ambiciosos projetos de identificação e implantação de uma trilha de longa distância no país: a Transmantiqueira, com 950 quilômetros de extensão pelos estados de São Paulo e Minas Gerais e cruzando 38 municípios.

A iniciativa da jornada é do ex-chefe do Parque Nacional de Itatiaia Luiz Aragão, um dos maiores conhecedores dessa região, que montou, ao longo de oito meses, um plano que prevê 75 dias de caminhada, saindo às 8h da sexta do Horto Florestal, em São Paulo —início oficialmente reconhecido da serra da Mantiqueira— e chegando 75 dias depois ao Parque Estadual de Ibitipoca, em Minas Gerais.

Aragão, coronel aposentado do Exército, percorreu, em 50 dias entre junho e julho passados, 740 quilômetros da chamada Transespinhaço, de Ouro Branco, em Minas Gerais, até a divisa da Bahia. E a Transmantiqueira está dentro do seu objetivo maior, de viabilizar no Brasil algo minimamente semelhante ao que existe nos Estados Unidos —as trilhas da Tríplice Coroa, que incluem a Appalachian (3.520 quilômetros), a Pacific Crest (4.260 quilômetros) e a Continental Divide National Scenic (5.150 quilômetros).

“A ideia é fomentar a criação de nossas três trilhas de longo curso icônicas”, contou Aragão ao blog quando retornou da Transespinhaço. Trilhas de longo curso, explica, são as que têm perto ou acima de 1.000 quilômetros, de preferência em sentido único e sem trajeto circular. Até agora, além da Transespinhaço e da Transmantiqueira, falta definir qual poderá vir a ser a terceira rota da “coroa” brasileira. Porque candidatas não faltam, mas não bastam boas intenções e a efetivação de uma trilha requer mobilizar entes que nem sempre se bicam, como prefeituras, órgãos públicos, donos de terrenos cruzados pelo trajeto e, claro, os interesses dos trilheiros.

O objetivo desta empreitada, dividida em 19 blocos, ou setores, é ambicioso. Trata-se nada menos que de testar o traçado e suas condições, conferindo onde tem estradas e como tirá-las da trilha (porque trilheiro raiz detesta andar entre carros ou, vá lá, carroças); onde é propriedade particular, conseguindo contatos com os proprietários; testar a logística identificando locais para acampar ou hospedar o caminhante, pontos de abastecimento e locais para enviar suprimentos (o que evita sobrecarregar uma mochila que já vai pesar um bocado); testar equipamentos e vestuário outdoor que aguentem centenas de quilômetros; ver onde há necessidade de sinalização, segurança, disponibilidade de mapas e tracklogs e estabelecer uma rede de voluntários e de parcerias com as esferas municipais, estaduais e federais, além de serviços de turismo e apoio pelo caminho. Definitivamente, não é pouca coisa.

O projeto inicial, que o blog acompanhou desde sua criação, previa a convocação de voluntários que pudessem percorrer junto com Aragão trechos ou, no melhor dos mundos, todo o percurso, emprestando um olhar a mais ao caminho, de preferência familiarizado com a região percorrida. No final, apesar de o grupo de WhatsApp criado para convocar participantes contar com mais de 160 pessoas que acompanharam a elaboração de cada passo do planejamento, apenas dois, talvez três devem acompanhar os 950 quilômetros. E muitos trechos ficaram sem voluntário nenhum participando diretamente. O saldo final de quantos vão efetivamente botar a mochila às costas e ajudar na empreitada, só será conferido ao longo das transmissões que Aragão vai fazer durante a jornada.

Vale lembrar que, se alguém quiser acompanhar algum trecho do percurso, seja por um dia ou um período mais longo, mesmo não tendo participado do planejamento do projeto, pode só chegar aos pontos delimitados de cada bloco e juntar-se à caminhada. O link para o grupo geral que pode orientar o setor mais próximo de cada interessado pode ser encontrado aqui, onde é só pedir a agenda do dia e as orientações.

“Eu ainda acredito que as trilhas de longo curso serão encaradas no Brasil de um modo mais ‘profissional'”, conta Aragão, “como um aparelho de recreação sério e não como geradora de memes e perrengues nas mídias sociais”. Além de representarem opções valiosas para a promoção da saúde e da preservação do ambiente, ele ressalta que “são possíveis e importantes alternativas para gerar emprego e renda no turismo”.

Fonte: Folha de S.Paulo

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