
Martinho 4º (1281-85) comeu tantas enguias ao vinho branco que morreu de indigestão. As mesas de Bonifácio 8º (1294-1303) e Clemente 6º (1342-52) eram equipadas com talheres de ouro maciço.
Pio 2º (1458-1464) era maluco por queijo pecorino toscano, feito com leite de ovelha. João 23 (1958-63) amava polenta.
Paulo 6º (1963-78) relaxava à noitinha aos goles de uísque com club soda. Alemão, Bento 16 (2005-13) preferia weissbier, cerveja de trigo de sua Baviera natal.
Papas, para os católicos, são representantes máximos da autoridade divina. Por isso é natural a curiosidade sobre suas preferências alimentares –especular sobre o que comem e bebem os traz para mais perto da vidinha pedestre de todos nós.
O argentino Francisco (2013-25) foi o papa que expôs mais abertamente seus hábitos mundanos. No que diz respeito à comida, Jorge Mario Bergoglio era 100%, talvez 110% portenho.
Em visita a Nova York dez anos atrás, Francisco fez questão de almoçar numa churrascaria argentina. Como os médicos lhe impuseram uma dieta rígida, mandou um franguinho ao limão na parrilla. E saiu de lá com várias garrafas de malbec, que o dono do restaurante lhe presenteou.
O papa era fanático por pizza –lembremos que Buenos Aires, onde Francisco nasceu e viveu até mudar para o Vaticano, é uma das capitais mundiais da pizza.
Torcedor fanático do San Lorenzo, o argentino dizia que na infância ia frequentemente às partidas de seu time –programa que fatalmente acabava numa pizzaria vizinha à cancha. Para comemorar o 81º aniversário, em 2017, o argentino soprou a velinha numa pizza retangular com 4 metros de comprimento.
No ano de 2015, em entrevista ao jornal argentino La Voz del Pueblo, Bergoglio lamentou não poder sair à rua e comer uma boa pizza numa pizzaria. “Mas pode pedir delivery”, retrucou o repórter. “Não é a mesma coisa”, rebateu o papa.
Três integrantes da Guarda Suíça –corpo que cuida da segurança e zeladoria da Santa Sé– escreveram em 2016 o livro “The Vatican Cookbook” (“O Livro de Receitas do Vaticano”). No capítulo dedicado a Francisco, a pizza obviamente aparece.
O receituário do papa argentino também inclui empanadas, maminha ao forno, alfajores e dulce de leche –é esta receita, acompanhamento clássico das medialunas (croissants) nos cafés de Buenos Aires, que vem a seguir.
DULCE DE LECHE
Rendimento: 4 copos
Dificuldade: fácil
Tempo de preparo: cerca de 90 minutos
Ingredientes
- 2,5 l de leite integral
- 500 g de açúcar
- ¼ colher (chá) de bicarbonato de sódio
- ½ fava de baunilha
- 3 colheres (sopa) de conhaque
Modo de fazer
- Ferva o leite e o açúcar em uma panela até que o açúcar esteja completamente dissolvido. Despeje a mistura, por uma peneira forrada com gaze, para uma panela funda.
- Cozinhe a mistura em fogo baixo por cerca de 1 hora, mexendo frequentemente e tomando cuidado para que o leite não transborde. O líquido ficará escuro, grosso e xaroposo.
- Adicione a fava de baunilha, o bicarbonato de sódio e o conhaque. Reduza o fogo e continue mexendo por mais alguns minutos. Remova a baunilha.
- Despeje a mistura em copos ou taças de sobremesa e reserve até esfriar à temperatura ambiente. Ao esfriar, o doce de leite engrossará até atingir a textura de mel.
Fonte: Folha de S.Paulo