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Chef do Mestre do Sabor mostra sua culinária delicada no Belcanto

Conhecido no público brasileiro por sua participação como jurado em um reality show culinário na TV Globo, interrompido pela pandemia, o chef português José Avillez vem tomando o cenário gastronômico de seu país. No seu portfólio multiplicam-se os restaurantes. Alguns deles, num mesmo edifício em Lisboa, o Bairro do Avillez (que reúne o Taberna, tradicional, o Páteo, de frutos do mar, a Pizzaria e o Mini Bar).

Outros ficam em diferentes locais da cidade (dois Cantinho do Avillez, o vegetariano Encanto, mais três pontos dentro da loja de departamentos El Corte Inglés); e mais quatro fora: o Maré, de frutos do mar, à beira da praia em Cascais; o Cantinho do Avillez do Porto e de Cacais; e o Casa Nossa, uma enorme casa-hotel (só pode ser alugada inteira), no Alentejo, onde a cozinha tradicional portuguesa impera.

Sem falar nos restaurantes em Macau e Dubai.

Diante desta diversidade, que no entanto está sempre ancorada numa culinária de raiz, executada com excelência técnica e de ingredientes, talvez o melhor para conhecer a visão do chef, que acaba de completar 45 anos, seja mergulhar no seu restaurante mais conhecido –e também o mais contemporâneo e gastronômico—, o Belcanto, em Lisboa.

É ali que estão seus maiores galardões: em 2024 recebeu a cotação máxima do guia Michelin para Portugal (duas estrelas) e o posto 31 na lista World’s 50 Best Restaurants.

Enquanto na maioria dos seus endereços o que se encontra é uma cozinha portuguesa de raiz, apenas trabalhada com muito apuro, no que ele assumiu em 2012, esta mesma culinária aparece revestida de uma delicadeza que envolve e enternece sabores normalmente pujantes e intensos dos pratos do seu país.

Existe um menu à la carte e o menu-degustação. Neste são servidos quatro petiscos, sete pequenos pratos, duas sobremesas e petit-fours, por 250 euros (fora bebidas).

Os pequenos aperitivos são uma espécie de avant-première do que virá depois, dos mares e dos campos: um canelone de lagosta, percebes, caviar e ouriço; tartelete de bacalhau com couve, brócolis e alho-poró frito; tempurá de barriga de atum marinada; e escabeche de perdiz e foie gras.

A viagem segue com o prato de beterraba com leite de pinhão e sementes de mostarda, saudando o mundo vegetal com diferentes texturas e temperaturas. Logo vem uma transição para o mar, com vegetais marinhos, alga, pepino e ostra.

Em seguida, uma longa sessão de pratos de peixe: o lírio (olhete, no Brasil) com repolho e um profundo caldo de cozido à portuguesa, realizando a união de mar e montanha; como intervalo, gema confitada com enguia defumada e cogumelos trazendo aromas de bosque; depois o lavagante (tipo de lagosta) com lulinha “à pé descalço” (receita de guisado da região de Sesimbra, aqui condimentada com curry verde).

Finalmente, encerrando a viagem pelos mares, vem o pregado (espécie de linguado) na brasa com arroz de berbigão, limão e caviar, realçado com molho à Bulhão Pato –de todos, o prato mais delicadamente português.

O único momento de carne é um leitão com “mole de sarrabulho”: o mole é homenagem ao molho do México, que o chef recém-visitou, e sarrabulho é uma receita portuguesa com miúdos de porco. Nesta versão a carne chega em duas lâminas com o exterior crocante, recheadas por um leve creme dos miúdos, execução e sabor impecáveis.

As duas sobremesas são balanceadas com frutas e fogem do excesso de açúcar: sorvete de leite de cabra com figo; e pudim abade de priscos com cítricos –a larica mais açucarada ficará para os petit-fours do final. Os que escolherem a harmonização com vinhos (150 euros) terão somente rótulos portugueses, sem deixar de lado regiões menos festejadas, como Açores e Carcavelos.

Belcanto
Rua Serpa Pinto, 10 A, Lisboa, Portugal, tel. +351 213 420 607.
www.belcanto.pt

Fonte: Folha de S.Paulo