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Imprensa internacional e entidades de saúde criticam discurso de Bolsonaro sobre o coronavírus

Causou perplexidade e grande repercussão o discurso do
presidente Jair Bolsonaro à nação realizado na noite de quarta-feira (24) sobre
a pandemia do coronavírus. O presidente insistiu que a COVID-19, doença que já
matou quase 20 mil pessoas em todo o mundo, não passa de uma “gripezinha” e que
a “histeria coletiva” é resultado do trabalho da imprensa que, segundo o
presidente, “espalha pavor”.

Bolsonaro disse ser favorável que os idosos se recolham, mas
que a grande maioria deve voltar ao trabalho, voltar à “normalidade”. O Brasil
tem hoje (25) 2.200 casos da doença e 47 mortes.

“O vírus chegou. Está sendo enfrentado por nós, e brevemente
passará. Nossa vida tem de continuar. Empregos devem ser mantidos, o sustento
da família deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade”, afirmou.
“Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito
de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércio e o
confinamento em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que um grupo de
risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Então, por que fechar escolas?”, questiona
o presidente.

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva considerou
“intolerável e irresponsável” o que chamou de “discurso da
morte” do presidente Jair Bolsonaro. A entidade afirmou que, em sua fala, que
classificou como “incoerente e criminosa”, o presidente “nega o
conjunto de evidências científicas que vem pautando o combate à pandemia da
COVID-19 em todo o mundo, desvalorizando o trabalho sério e dedicado de toda
uma rede nacional e mundial de cientistas e desenvolvedores de tecnologias em
saúde.”

A Sociedade Brasileira de Infectologia se disse preocupada
com a fala de Bolsonaro, e considerou que as declarações podem dar a falsa
impressão de que as medidas de contenção social são inadequadas. Os
infectologistas classificaram a pandemia como “grave”, e disseram que
é temerário associar que as cerca de 800 mortes por dia causadas pela doença na
Itália, a maioria entre idosos, esteja relacionada apenas ao clima frio do
inverno europeu.

A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia disse que
qualquer medida que abrande o isolamento da população será “extremante
prejudicial” para o combate à Covid-19.

A Associação Paulista de Medicina afirmou que, “se a
intenção foi acalmar, a reação da sociedade mostra que ele [Bolsonaro] não
alcançou seus objetivos. Você não traz esperança minimizando o problema, mas
reforçando as soluções. Existe um perigo próximo, evidente, real e gravíssimo.
Enfrentá-lo é prioritário.”

Repercussão internacional

O discurso de Bolsonaro repercutiu na imprensa internacional
e foi destaque nos jornais desta quarta-feira (25). Para os jornais, as
declarações do líder da extrema direita do Brasil são “incendiárias”,
“difíceis de acreditar” e vão de encontro com as próprias
recomendações do Ministério da Saúde do país.

O jornal “The Washington Post” afirma que Bolsonaro vê o
coronavirus mais como um “incômodo político do que uma ameaça de saúde pública”.
A ABC News publicou que o presidente brasileiro afirma novamente que o coronavírus
não é tão grave quanto parece e que a histeria é causada pela mídia. O jornal
The New York Times também postou sobre o assunto.

Para o jornal francês “Le Monde”, o presidente
“minimiza os riscos relacionados à pandemia da Covid-19 ao criticar as
medidas tomadas em diversas cidades e Estados do país, em um momento em que um
terço da população mundial é colocada em confinamento”.

O jornal “Le Parisien” lembra que, no momento do
discurso de Bolsonaro, o Brasil contabilizava 2.201 casos de coronavírus e 46
mortes. “Mas as deficiências do sistema de saúde, além da pobreza e a
insalubridade nas quais vivem uma grande parte da população, ameaçam agravar a
epidemia na primeira economia da América Latina”, afirma o diário.

Em editorial, o jornal espanhol “El País” analisa
como a América Latina lida com a pandemia e afirma que Bolsonaro “é o pior
caso” entre alguns líderes da região que tentam minimizar a situação. Para
o diário, o presidente está mais preocupado com a briga política com os
governadores de São Paulo e do Rio – estados que concentram 60% dos casos de
coronavirus do Brasil – do que com os riscos da pandemia. (Com informações do
G1)

Fonte: AcheiUSA