
O texto foi atualizado às 18h14 de domingo (28).
Os socialistas da Espanha estão caminhando para a vitória na terceira eleição em menos de quatro anos, mas não conseguiram atingir o número mínimo de cadeiras no Parlamento para formar um governo sem recorrer a uma coalizão, segundo resultados parciais divulgados após o pleito neste domingo (28).
Com 29% dos votos, o PSOE, partido do premiê Pedro Sanchez, precisará do apoio da esquerda radical Podemos e dos nacionalistas catalães e bascos para formar um novo governo. Ou mesmo do Ciudadanos, que devem atingir 16% dos votos e obter assim 57 cadeiras.
Para compor um governo, é necessário reunir ao menos 176 dos 350 assentos do Parlamento.
O primeiro-ministro socialista se apresentou como um baluarte contra o avanço da extrema-direita, mas, pela primeira vez desde que o regime militar terminou na década de 1970, um partido desse campo político deve entrar no Parlamento.
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O Vox se opõe ao multiculturalismo, ao feminismo e à livre migração.
Qual é o resultado das urnas até agora?
Segundo os dados divulgados até as 18h (horário de Brasília), com 88,4% dos votos apurados, os socialistas tiveram 28,9% dos votos, seguidos de Partido Popular (16,7%), Ciudadanos (15,8%), Unidas Podemos (14,3%) e Vox (10,2%).
De acordo com os resultados preliminares, os socialistas devem ganhar 122 assentos e o ex-parceiro de coalizão Podemos, 42 assentos. No total, 164.
Como não alcançam o patamar necessário de 176 cadeiras para uma maioria parlamentar, eles devem buscar o apoio dos partidos catalães pró-independência e dos nacionalistas bascos.
Do outro lado, o Partido Popular (PP), que governou a Espanha até deixar o poder em maio de 2018 em um voto de desconfiança, está caminhando para a pior eleição de sua história, com somente 65 assentos.
A cifra é muito aquém de uma coalizão majoritária com a centro-direita (Ciudadanos), com 57, e a direita radical (Vox), com 24. No total, teriam 146 assentos.
Segundo o Ministério do Interior da Espanha, 75,7% do eleitorado compareceu às urnas, um aumento de cerca de 5% em relação ao pleito de 2016.
Estima-se que a apuração dos votos seja concluída ainda neste domingo.
Quais são os pontos-chave da eleição?
A campanha altamente polarizada foi dominada por questões como identidade nacional, igualdade de gênero e o futuro da Catalunha.
A região semi-autônoma realizou um referendo sobre a independência em outubro de 2017 e declarou sua independência da Espanha semanas depois.
Uma dúzia de líderes desse movimento já foi julgada em Madri, enfrentando acusações como rebelião e insubordinação.
Analistas afirmam que o apoio ao Vox foi impulsionado pela raiva generalizada da independência. O partido se opõe fervorosamente a qualquer concessão aos separatistas.
Os direitos das mulheres também foram um dos principais temas de campanha. A violência sexual provocou grandes debates e protestos de rua em toda a Espanha, o que levou políticos a cortejarem ainda mais os votos das mulheres.
Vox, no entanto, se manifestou contra o que chama de “feminismo radical”, dizendo que este “criminaliza” os homens.
O que disseram os líderes partidários?
Em entrevista após votar em uma seção perto de Madri, o primeiro-ministro Pedro Sánchez disse esperar por estabilidade.
“Depois de muitos anos de instabilidade e incerteza, é importante que hoje enviemos uma mensagem clara e definida sobre a Espanha que queremos. E a partir daí uma ampla maioria parlamentar deve ser construída para apoiar um governo estável”, disse ele aos jornalistas.
Por outro lado, Albert Rivera, líder da centro-direita de Ciudadanos, cobrou novamente a saída de Sánchez do poder.
“Estas não são eleições normais. O que está em jogo é se queremos permanecer unidos, se queremos continuar sendo cidadãos livres e iguais, se queremos uma Espanha que olha para o passado ou para o futuro, um país de extremos ou de moderação,” disse ele ao votar em Barcelona.
Pablo Casado, que assumiu a liderança do conservador Partido Popular depois de ter caído do poder em um voto de desconfiança em maio de 2018, disse que queria ver um “governo estável” para evitar as “legislaturas fracassadas” dos dois últimos anos.
O líder da Vox Santiago Abascal disse que muitos espanhóis estavam votando “sem medo de nada nem ninguém”.
O que é o Vox?
Liderado por Santiago Abascal, um ex-membro do conservador PP, o partido surgiu em questão de meses com uma promessa de “tornar a Espanha grande novamente” (o que lembra a campanha do republicano americano Donald Trump).
Obteve cadeiras pela primeira vez em eleições locais na região sul da Andaluzia e, nas eleições deste ano, concordou em apoiar uma coalizão de centro-direita do PP e Ciudadanos.
O Vox rejeita o rótulo de extrema-direita, mas seus pontos de vista sobre a imigração e o lugar do Islã estão de acordo com os partidos populistas e de extrema-direita em outros lugares da Europa.
Integrantes da sigla defendem revogar leis contra a violência de gênero e se opõe ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Os críticos vêem isso como um retrocesso nacionalista ao ditador fascista Franciso Franco, que governou a Espanha até sua morte em 1975.
A Vox tem como objetivo deportar migrantes legalmente autorizados a estar na Espanha, caso tenham cometido algum delito, e quer impedir que qualquer migrante que entre ilegalmente permaneça no país.
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Fonte: BBC